O governo Bolsonaro vai enviar ao Congresso um projeto para recriar a CPMF, agora com novo nome, mas o mesmo propósito: impor um tributo que penaliza os mais pobres, distorce os preços e prejudica a economia. Toda vez que você fizer uma compra, receber salário, fizer uma aplicação, pagar um boleto, 0,2% do total serão tungados pelo governo Bolsonaro.
O irônico é que poucos políticos falam tão mal da CPMF quanto Bolsonaro – o que só mostra que você conhece um político de verdade quando ele exerce o poder. Compare o que Bolsonaro falava do imposto quando era oposição e como foi mudando depois de assumir a Presidência.
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Clique e Assine23 de julho de 1996, como deputado federal no governo FHC: “A unanimidade dos empresários, não interessa se médios, grandes ou micro, assumiu posição contrária à CPMF”, disse Bolsonaro. “A votação desse imposto é um desgaste para qualquer um de nós.”
1999, como deputado federal no governo FHC: “Com toda a certeza, a agiotagem passou a noite toda ‘bebemorando’ essa desgraça aprovada por esta Casa”.
18 de dezembro de 2003 como deputado federal no governo Lula: “A prorrogação da CPMF, medida anteriormente combatida pelo PT, acabou sendo aprovada para atender aos interesses do FMI”.
2 de abril de 2004, como deputado federal no governo Lula: “Mentiram a vida toda para chegar ao poder: vamos descongelar a tabela do Imposto de Renda, foi congelada; vamos acabar a CPMF, foi prorrogada; não vamos aumentar a carga tributária, foi aumentada”.
28 e agosto de 2015, como deputado federal no governo Dilma, no twitter:”Governo quer volta de CPMF alegando investimento no Mais Médicos: 60% para os Castros e 405 para os “profissionais”. VIVA CUBA, PAGUE SEMPRE BRASIL”
19 de setembro de 2018, como candidato a presidente: “Ignorem essas notícias mal intencionadas dizendo que pretendermos recriar a CPMF. Não procede. Querem criar pânico pois estão em pânico com nossa chance de vitória. Ninguém aguenta mais impostos, temos consciência disso”.
2 novembro 2018, como presidente eleito, no Twitter: “Desautorizo informações prestadas junto à mídia por qualquer grupo intitulado ‘equipe de Bolsonaro’, especulando sobre os mais variados assuntos, tais como CPMF [Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira], Previdência, etc.”
9 de agosto de 2019, como presidente, no Twitter: “Já falei que não existe CPMF. O que ele quer mexer, tudo proposta, não vai depois dizer lá na frente que eu recuei, tudo é proposta. Nós queremos facilitar o imposto de renda, aumentar a base, acabar com algumas deduções, diminuir o imposto máximo de 27,5%, diminuir um pouco. Essa que é a ideia”.
11 de setembro de 2019, como presidente, no Twitter: “TENTATIVA DE RECRIAR CPMF DERRUBA CHEFE DA RECEITA. Paulo Guedes exonerou, a pedido, o chefe da Receita Federal por divergências no projeto da reforma tributária. A recriação da CPMF ou aumento da carga tributária estão fora da reforma tributária por determinação do Presidente”.
18 de julho de 2020, como presidente, no Twitter: “O que o Paulo Guedes está propondo não é CPMF não. É uma tributação digital. Não é apenas para financiar um programa que envolveria quase todos que estão aí. É para desonerar, também, a folha de pagamento. É uma compensação. É eliminar um montão de encargos em troca de outro, mas se a sociedade não quiser não tem problema nenhum”.
31 de julho de 2020, em Bagé (RS), depois de perguntado se pretendia relançar a CPFM: “Acabou a entrevista. Valeu, gente, obrigado”.
2 de agosto de 2020, como presidente, em entrevista: “Então eu falei para ele (Guedes), quando for apresentar a vocês, botar os dois lados da balança. Se o povo não quiser, vou nem falar Parlamento, nós e o Parlamento somos subordinados ao povo. Se o povo achar que não deve mexer, deixa como está. Agora, tem o dono da padaria aqui, a dificuldade que é contratar gente com esse emaranhado de leis que temos pela frente, direitos”.
O que Bolsonaro fez tem nome. Em 1986, o presidente José Sarney ajudou a eleger 26 dos 27 governadores prometendo manter o congelamento dos preços do Plano Cruzado, o que era impossível. Cinco dias depois da eleição, com as cédulas de papel ainda sendo contadas, o governo anunciou o descongelamento dos preços. O ex-ministro Delfim Netto chamou a mentira de “estelionato eleitoral”. Fernando Henrique Cardoso, em 1999, e Dilma Rousseff, em 2015, também fizeram no governo o que havia negado na campanha. Agora chegou a vez de Bolsonaro.