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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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CPI virou pizza antes de começar

Bolsonaro usa Kajuru para ameaçar STF e enquadrar senadores. Bolsonaro tornou-se inimputável

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 abr 2021, 15h33
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  • O providencial vazamento dos 25 minutos da conversa telefônica entre o presidente Jair Bolsonaro e o senador Jorge Kajuru conseguiu derrubar como em um strike as expectativas das oposições de mostrar à população a imperícia, imprudência e negligência do seu governo no combate à Covid-19. Um dia depois da divulgação do áudio, Bolsonaro conseguiu tudo o que queria:

    · Por ordem de Bolsonaro, senadores governistas assinaram anexo para ampliar as investigações da CPI à ação de governadores e prefeitos. Se investigar com justeza os erros de um único presidente é complicado, imagine fazer isso ao mesmo tempo que se apura as responsabilidades de 27 governadores e mais de 5.000 prefeitos. É a manobra típica de quem não quer investigar nada.

    · Acossados pela ameaça de Bolsonaro de colocar em votação no Senado o impeachment de ministros do Supremo, a Corte recuou. A tendência hoje é que na votação de quarta-feira, o Supremo mantenha a liminar do ministro Luís Barroso ordenando a instalação da CPI, mas deixe ao presidente do Senado a decisão de só iniciar os trabalhos quando as sessões presenciais forem seguras. Com medo, os ministros de STF vão deixar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, empurrar as investigações para as calendas.

    · Para deleite da sua militância, Bolsonaro ainda ameaçou fisicamente o líder da oposição, Randolfe Rodrigues. “Se você [Kajuru] não participa [da CPI], vem a canalhada lá do Randolfe Rodrigues para participar e vai começar a encher o saco. Daí, vou ter que sair na porrada com um bosta desses”, afirmou Bolsonaro. O que vai acontecer com o presidente? Nada.

    É ilustrativo comparar a reação cordata do Judiciário e do Legislativo com Bolsonaro e sua reação ao PT. Cinco anos atrás, uma conversa gravada fora do horário autorizado pela Justiça entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva foi liberada pelo então juiz Sérgio Moro para a mídia. O áudio foi repetido zilhões de vezes nas emissoras de TV e rádio. Em minutos, centenas de pessoas iniciaram um protesto que interrompeu a avenida Paulista e o ministro do STF Gilmar Mendes atendeu um pedido de liminar proibindo a nomeação de Lula como ministro, visto à época como uma tentativa de obstruir as ações judiciais contra ele. Dilma e Lula sempre negaram a acusação, considerando a nomeação uma forma de reconstruir a base governista no Congresso. Quando o Congresso percebeu que Dilma não tinha força sequer para nomear Lula ministro, o castelo de cartas da base governista se desmoronou e o impeachment virou questão de tempo.

    “O jeito de esquecerem o significado de crime de responsabilidade é praticar vários por dia”, escreveu no Twitter o professor de Direito da USP Conrado Hubner. O áudio do senador Kajuru é uma evidente intervenção do chefe do Executivo no trabalho do Legislativo e na autonomia do Judiciário. Só que nada vai acontecer com Bolsonaro. Bolsonaro tornou-se inimputável.

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