Ao demorar meses para decidir seu partido, o presidente Jair Bolsonaro se colocou em uma armadilha que pode rachar o apoio eleitoral do Centrão, o consórcio de partidos que garante a maioria na Câmara. Depois de romper com o PSL, tentar criar um partido próprio e fracassar, ensaiar entrar em uma legenda nanica com o Patriotas e o PRTB, ameaçar voltar ao PSL e fazer exigências para entrar no PTB e recuar, Bolsonaro está entre duas opções: o PP, de Arthur Lira e Ciro Nogueira, ou o PL, de Valdemar Costa Neto. O risco é perder nas eleições o apoio do partido que for preterido.
Em setembro, Bolsonaro esteve muito perto de assinar com o PP depois de o partido aceitar sua principal condição: ter a palavra final sobre todos os candidatos a senador. Depois de quase três anos no Planalto, Bolsonaro compreendeu que é muito mais importante ter uma base no Senado do que eleger governadores.
O PP é um partido médio (42 deputados e 7 senadores), mas com uma influência desproporcional no governo Bolsonaro. O ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, é tão poderoso que só não derrubou Paulo Guedes porque ainda não arranjou um substituto. O presidente da Câmara, Arthur Lira, é a única pessoa no país que pode levar a frente o impeachment do presidente. A filiação de Bolsonaro poderia servir para enquadrar os diretórios do PP da Bahia e Pernambuco, com relações históricas com Lula.
Tudo parecia certo, mas em outubro Bolsonaro abriu conversas com o PL. A lógica por trás era que, com todo o poder que tem, o PP já estaria certo na chapa presidencial. O PL, no entanto, podia facilmente voltar aos braços de Lula como em 2002 e 2006 quando o vice-presidente José Alencar era filiado ao partido. Presidente eleito da Federação das Indústrias de São Paulo, o filho de José Alencar Josué Gomes ainda é filiado ao partido e seria o candidato a vice dos sonhos de Lula. Quando percebeu a possibilidade de ser descartado por Bolsonaro, o PP estrilou. Agora, o presidente não consegue se decidir sem desagradar um dos lados.
Ciro Nogueira, Arthur Lira e Valdemar da Costa Neto são políticos profissionais. Não estão disputando a vaidade de ter um presidente filiado a sua sigla, mas a capacidade de Bolsonaro ajudar na eleição de congressistas. Nos cálculos dos dois partidos, Bolsonaro viria com 15 parlamentares e ajudaria a eleger uma bancada de no mínimo 60 deputados e 8 senadores. Num sistema partidário fragmentado como o brasileiro, 60 deputados é uma potência. Com uma bancada dessas, o partido senta-se à mesa do próximo presidente seja ele quem for.
Desde 2015, as reformas dos poderes do Congresso e das regras eleitorais transformaram o balanço entre Legislativo e Executivo. O Congresso ficou mais poderoso. O orçamento impositivo das emendas parlamentares e o caixa de R$ 30 bilhões das emendas do relator do Orçamento, tornaram os deputados independentes em relação ao governo.
O fim das doações eleitorais privadas e o cálculo do fundo eleitoral a partir do tamanho das bancados tende a gerar um círculo, onde os maiores partidos recebem mais dinheiro e assim elegem mais parlamentares e novamente recebem mais dinheiro. Ter um cabo eleitoral como Bolsonaro pode fazer a diferença entre receber R$ 200 milhões (como seria um partido com 60 deputados) ou de R$ 130 milhões (média de um partido de 40 deputados).
É por isso que a oferta da candidatura a vice-presidente na chapa de Bolsonaro não atrai o PL. Seria como ter o ônus de ter como candidato um presidente que atrai hoje mais ódio do que amor, sem o bônus de trazer seus eleitores (sem contar que a experiência de Hamilton Mourão mostrou que para Bolsonaro vice e nada é a mesma coisa). Se Bolsonaro for para o PP e em abril e Lula seguir liderando as pesquisas, o PL pode pular do barco.