Contrariando Tolstoi em “Ana Karenina”, todos os ministros da Fazenda e da Economia são felizes a sua maneira, mas se parecem na infelicidade. Todo comandante da economia assume exibindo um cheque em branco assinado pelo presidente, assumindo como seu um poder que apenas está sendo delegado a ele pelo chefe do Executivo. Os ministros que entendem esse limite e se adaptam aos desígnios do presidente, como Delfim Netto com Figueiredo e Pedro Malan com FHC, tem sua lealdade paga em mais poder. Os que acham que são mais importantes que o chefe _ de Dílson Funaro com Sarney a Paulo Guedes e Bolsonaro _ são invariavelmente fritados até a humilhação. Quando o ministro da Economia se fragiliza, a sua sobrevivência passa a depender do Congresso.
O presidencialismo brasileiro tem uma dinâmica própria de fritar ministros da economia. A sua autoridade é dada pelo presidente, mas o poder é despedaçado pelo Congresso. Mário Henrique Simonsen era tão poderoso no governo Geisel (1975-79) que para permanecer com João Figueiredo exigiu a criação de um novo ministério, capaz de controlar o orçamento da União, incluindo os gastos das estatais, e as secretarias de fiscalização de preços administrados. Cinco meses depois, desgastado pelas brigas com outros ministros, Simonsen foi desancado por um deputado do baixo clero arenista. Quando ninguém do governo o defendeu, Simonsen viu que não tinha o que fazer em Brasília.
Depois do naufrágio do Cruzado, em 1987, Dílson Funaro caiu quando o PFL se uniu pela sua queda, e o PMDB viu na substituição uma oportunidade para impor o novo nome a Sarney. O substituto de Funaro, Bresser Pereira, renunciou quando o Congresso boicotou sua proposta de reforma administrativa e privatização de estatais. Ministra que baixou o pacote mais radical de intervenção do estado na economia, Zélia Cardoso de Mello não caiu pelo confisco da poupança ou pelo caso com Bernardo Cabral, mas por ter perdido a briga pela indicação na Suframa com um senador.
Mais importante ministro do início do governo Lula, Antonio Palocci se inviabilizou ao mentir numa CPI no Senado, em 2005, e arrastar o escândalo do mensalão para a economia. Em 2015, no segundo governo Dilma, Joaquim Levy foi atropelado pela aliança Eduardo Cunha e Aécio Neves pelas pautas bombas de mais gastos. Com a oposição velada do PT e escancarada do PSDB e PDMB, Levy caiu pela pressão política, não econômica.
Em seu pior momento no governo, Paulo Guedes está com o pescoço na guilhotina do Congresso. Com sua conhecida habilidade política, Guedes culpou o Senado pela proposta que acaba com o Teto de Gastos e vai agora depender dos votos dos senadores para que o benefício do programa sucessor do Bolsa Família seja de R$ 400 e que sejam rejeitadas as propostas de mensalidades de R$ 500 e R$600. Também vai depender de aprovação de lei pelos senadores e deputados que se quiser levar mesmo à frente a proposta de privatização da Petrobras via pulverização das ações quando a companhia for ao Novo Mercado da Bolsa de Valores.
Em duas semanas, Guedes terá de ir à Câmara explicar por que manteve ativa contas bancárias conjuntas com sua mulher e filha no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas. Perder o controle emocional _ como já aconteceu com Guedes no debate da reforma da previdência _ será fatal. Como vários de seus antecessores em momentos de fragilidade, Guedes recebeu o cargo do presidente, mas só vai sobreviver nele se o Congresso quiser.