Bolsonaro tenta transformar Alexandre de Moraes no novo Sergio Moro
Ação do presidente contra ministro STF copia tática da defesa de Lula durante a Lava Jato
A ação do presidente Jair Bolsonaro acusando o ministro do STF Alexandre de Moraes de suspeição nas investigações que o envolvem repete a tática usada pelo PT na defesa do seu principal adversário, o ex-presidente Lula da Silva. Com a ação, apresentada na terça-feira (17 de maio) e rejeitada na quarta, Bolsonaro personaliza as acusações de que ele, seus filhos e assessores do Palácio do Planalto organizaram uma campanha digital de difamação e ameaças de agressão contra os ministros do Supremo. Ao insistir na ação contra o ministro Alexandre de Moraes agora com uma representação na Procuradoria Geral da República, Bolsonaro não busca uma vitória jurídica, mas uma ação política, transformar toda e qualquer ação do ministro Alexandre de Moraes numa questão pessoal.
Em circunstâncias distintas, Lula havia feito isso ao transformar os inquéritos da Lava Jato em uma disputa política sua com o então juiz Sergio Moro. A operação deu errado no começo e Lula foi condenado e preso. Mas a partir das revelações das conversas de Moro com os procuradores de Curitiba restou poucas dúvidas de que houve transgressões nos inquéritos. O processo foi anulado e Moro considerado suspeito pelo Supremo Tribunal Federal. Lula recuperou os direitos políticos e lidera as pesquisas para as eleições de outubro.
Bolsonaro, agora, quer transformar Alexandre de Moraes no novo Sergio Moro.
Há motivos estratégicos para essa nova postura. Na semana passada, Alexandre de Moraes determinou que os ataques feitos pelo presidente Bolsonaro às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral devem ser investigados em conjunto com o inquérito da milícia digital que atua contra a democracia. Agora, as investigações se aproximam de dois ministros generais, Luiz Eduardo Ramos e Augusto Heleno. A Polícia Federal revelou que o técnico de informática Marcelo Abrieli disse em depoimento ter sido levado pelos dois ministros generais a se reunir com o presidente Bolsonaro em agosto de 2021 para apresentar dúvidas sobre o sistema eleitoral. Horas depois do encontro, Bolsonaro fez uma transmissão pelo Facebook dizendo ter provas de fraudes na eleição de 2014 e mostrou dados sigilosos do TSE. A transmissão dos dados gerou um dos vários inquéritos no STF.
O STF também avançou nas investigações sobre o financiamento da produção do material distribuído nas correntes de WhatsApp bolsonaristas. Vários empresários estão sob investigação por terem pago valores mensais para sustentar os ataques aos ministros do STF ao longo de 2021.