O primeiro debate presidencial foi ruim para o líder Lula da Silva, mas pior para Jair Bolsonaro. Depois de um desempenho acima da média no Jornal Nacional de quinta-feira (25/08), Lula jogou na defensiva no debate da Band e não conseguiu sequer responder uma pergunta previsível sobre corrupção nos governos do PT. O que o ex-presidente queria era não parecer agressivo nem entrar em conflito. O que conseguiu foi parecer não ter respostas.
Ironicamente, Lula foi salvo por Bolsonaro. Citado em pergunta sobre a queda no índice de vacinação, Bolsonaro atacou a jornalista Vera Magalhães. “Acho que você dorme pensando em mim, você não pode tomar partido num debate como esse. Você é uma vergonha para o jornalismo”, disse. A senadora Simone Tebet saiu em defesa da jornalista e também foi alvo do presidente. “A senhora é uma vergonha para o Senado, não vem com essa historinha de que eu ataco mulheres, de se vitimizar.”
Todos os grupos de qualis que acompanhavam o debate rechaçaram as declarações de Bolsonaro. “Ele é aquele homem que só bate em mulher”, disse uma mulher paulista da classe C, que estava indecisa antes do início do debate. Nos grupos acompanhados pela campanha bolsonarista o resultado foi similar, e no intervalo do debate assessores convenceram Bolsonaro a tentar amenizar a resposta. O presidente saiu-se citando a mulher Michelle Bolsonaro, disse que é acusado de ser contra mulheres “sem prova nenhuma”. “Chega de vitimismo, somos todos iguais, não fica aqui fazendo mimimi”, disse ele a Tebet.
De acordo com a pesquisa Ipec, Bolsonaro tem 32% das intenções de voto gerais, mas apenas 27% entre as mulheres. Com Lula ocorre o inverso. Ele tem 42% no geral e 47% no eleitorado feminino. A resistência a Bolsonaro ultrapassa região, idade e religião. Em todos os segmentos, os votos masculinos para Bolsonaro são maiores que os femininos. Sem equilibrar essa relação, o presidente não ganha a eleição.
Por isso, as agressões à jornalista e à senadora terão custo alto. Bolsonaro tentava reduzir sua rejeição junto às mulheres mais pobres usando a mulher Michelle, O debate desde domingo jogou o trabalho por terra.
O presidente demonstrou estar desacostumado a ser questionado, por estar sempre em ambientes controlados, como sua live das quintas-feiras e o cercadinho do Alvorada.
Debates com candidatos sem chance de vitória criam uma dinâmica diferente. Esses candidatos nada têm a perder e são pouco conhecidos por terem espaço mais escasso. Assim, ficam livres para ajudarem uns aos outros e atacar os maiores.
Simone Tebet foi o destaque do debate. Bateu sistematicamente em Bolsonaro em todas as suas perguntas e deu respostas consistentes. “Ela falou firme sem ser grosseira”, disse uma eleitora mineira, do grupo de pesquisas. Na pesquisa Quaest sobre repercussão do debate no Twitter, Tebet foi a segunda candidata mais elogiada, atrás de Ciro Gomes. Um feito para quem não tem uma militância.
Ciro Gomes atacou os dois: chamou Lula de corrupto e de mentir sobre seu governo; disse que Bolsonaro não tinha coração e lembrou do que o presidente disse durante a pandemia, além de chamá-lo de corrupto e acusá-lo de corromper os próprios filhos e ex-mulheres. Se Ciro fosse equilibrado na campanha como foi no debate, poderia estar mais bem colocado.