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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Bolsonaro e o efeito rebote

Ameaças de golpe podem levar não-lulistas a votarem no PT ainda no primeiro turno

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 jul 2022, 23h28 - Publicado em 25 jul 2022, 12h07

Jair Bolsonaro acredita que poderá mobilizar centenas de milhares de seguidores para ocupar as ruas no Sete de Setembro, intimidar o STF e a oposição e gerar um movimento de massas que torne impossível duvidar que ele é favorito nas eleições de outubro. Os últimos dias, no entanto, mostram que o efeito pode ser o oposto. Pressionados pela possibilidade de uma intervenção militar, setores que rejeitam Lula da Silva e o PT podem dar apoio ao ex-presidente ainda no primeiro turno. Seria um efeito rebote da movimentação de Bolsonaro.

Desde a morte do militante petista em Foz do Iguaçu, em 10/07, tornou-se consenso entre políticos e empresários a possibilidade de violência nas ruas. A possibilidade de que, inflamados pelo presidente, os bolsonaristas agridam adversários deixou de ser um exercício teórico. 

Em conversas com emissários de Lula, empresários que ajudaram na articulação da desastrada terceira via indicaram que podem ir à público apoiar Lula, caso o próximo Sete de Setembro seja violento. A postura existe mesmo entre líderes do MDB e PSDB que fizeram oposição aos governos Lula e Dilma. “A ideia é apertar o nariz, vota no Lula e voltar a criticar depois da posse. Se vencer, o Bolsonaro  vai sentir que recebeu um cheque em branco para decidir o que quiser, até mesmo não ter eleição em 2026”, me disse o acionista de uma indústria. 

Nesta segunda-feira, o empresário economista Gustavo Ioschpe, crítico do PT desde sempre, escreveu na Folha que pretende votar em Lula no primeiro turno. “Os eventuais erros do governo petista podem ser sanados na gestão seguinte. Todavia, mais quatro anos de Bolsonaro devem gerar uma destruição em tantas áreas que perderemos uma geração”, escreveu. 

A cada dia, Bolsonaro estica a corda. Na segunda-feira, na constrangedora reunião com mais de 60 embaixadores em Brasília, acusou a Justiça eleitoral de conspirar para eleger Lula. Ficou falando sozinho. 

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O lançamento da sua candidatura neste domingo (24), no Rio de Janeiro, o presidente incitou o público de 10 mil pessoas  ao chamá-los de “exército do povo”. “Esse é o nosso exército. É o exército do povo, o exército que está do nosso lado, que não admite corrupção, não admite fraude. Esse é o exército que quer transparência, quer respeito. Quer, não. Merece e vai ter”, disse. Em uma parte do discurso, pediu que a massa repetisse que “morreria pela liberdade”. Foi atendido.

“Nós, militares, juramos dar a vida pela pátria. Todos vocês aqui juraram dar a vida pela sua liberdade. Eu juro dar a vida pela minha liberdade, repitam. Esse é o nosso Exército. O exército do povo. É o Exército que não admite corrupção, não admite fraude (nas eleições). Esse é o exército que nos orgulha. O exército de 210 milhões de pessoas”, disse. “Vamos às ruas no dia 7 de setembro pela última vez. Esses pouco surdos de capa preta (os ministros do STF) têm que entender o que é a voz do povo”.

Da primeira vez foi quase uma tragédia. Dezenas de milhares de seguidores de Bolsonaro ocuparam a Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 6 de setembro do ano passado e tentaram invadir a sede do Supremo Tribunal Federal. Não conseguiram porque o Comando da Polícia Militar do Distrito Federal enviou um contingente de reforço depois de ameaçado pelos ministros do STF. No dia 7, Bolsonaro foi ‘às ruas em Brasília e São Paulo e ameaçou individualmente os ministros que lhe desagradavam. À noite, sem apoio nem do Centrão, fingiu um acordo mediado pelo ex-presidente Michel Temer, um safe-face para que tanto o presidente, quanto o STF pudessem jogar o conflito debaixo do tapete.

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Da segunda vez, pode ser uma farsa.

Dobrando a aposta

Três ideias que Jair Bolsonaro guarda para um eventual segundo turno, segundo assessores:

Pedir as bolsonaristas que não respondam às pesquisas, particularmente do Datafolha. Com o boicote, qualquer dado das empresas deixa de ser confiável por, em tese, ter uma subnotificação de eleitores do presidente.

Pedir que o Congresso não aprove a renovação da concessão da TV Globo. A recomendação do Ministério das Comunicações está prevista para ocorrer em outubro, entre o primeiro e o segundo turno. A tendência dos técnicos é autorização a renovação, mas o presidente quer usar a ameaça para colocar em suspeição a cobertura eleitoral da emissora.

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Anunciar que, se reeleito, vai propor uma emenda constitucional ampliando de 11 para 15 o número de ministros do STF. Assim, se reeleito, Bolsonaro teria a possibilidade de nomear 6 ministros, os quatros novos e os dois da aposentadoria de Rosa Weber e Ricardo Lewandowski.

  

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