João Doria já foi. Sérgio Moro também. Assim como o moderado ex-governador Eduardo Leite, o extremista ex-ministro Abraham Weintraub, os generais Santos Cruz e Rêgo Barros, os quase candidatos Luciano Huck e João Amoêdo, a turma do MBL e do tudo-menos-o-PT de Joyce Hasselmann e Alexandre Frota. Todos eles e outros milhões de brasileiros foram bolsonaristas em 2018 e quatro anos depois desistiram. Os mais conhecidos foram empurrados para fora pelo próprio Bolsonaro, orgulhoso de mostrar que quem detinha o poder era ele e não quem se elegeu na sua cola. Só que faltando
42 dias para 2 de outubro, Bolsonaro pode ganhar pontos nas pesquisas e forçar um segundo turno. Mas sem recuperar os arrependidos, o presidente não ganha.
Com o primeiro turno já decidido entre apenas dois candidatos, Bolsonaro tem recuperado parte desses eleitores de 2018. Segundo dados do Datafolha contabilizados pelo colunista Bruno Boghossian, em dezembro apenas metade dos eleitores que votaram no presidente contra Fernando Haddad em 2018 repetiram a dose. Sem Moro e Doria e com a recuperação da economia, o presidente cresceu e chegou a 63% na pesquisa divulgada na semana passada. Parece um feito impressionante, mas não é. Mostra apenas como o presidente se isolou ao longo do governo e tenta recuperar o tempo perdido faltando semanas para o fim da campanha.
Nesses quatro anos, Bolsonaro conseguiu ser rejeitado por um de cada cinco eleitores que votaram nele em 2018. 21% dos ex-bolsonaristas disseram ao Datafolha que não votariam em Bolsonaro “de jeito algum” e 19% do total agora cruzaram a rua e declararam voto em Lula da Silva.
A campanha da reeleição, por enquanto, está pautada em três eixos:
O antipetismo: a ideia de que a volta do PT ao poder vai significar o fechamento de igrejas, a invasão de terras, a revanche contra militares e “a transformação do Brasil numa ditadura de esquerda”. Quem acredita nisso já está com Bolsonaro.
A pauta conservadora: a reeleição de Bolsonaro serve a um propósito maior, o de aumentar a influência do cristianismo conservador no STF, no Congresso, nas escolas e no cotidiano dos brasileiros. Este eleitorado já está quase todo com Bolsonaro.
O voto econômico: o corte nos impostos dos combustíveis derrubou a inflação, que tende a seguir caindo até o fim do ano. Os indicadores de emprego estão melhorando e o dinheiro do Auxílio Brasil chegou nos bolsos dos mais pobres. A conta para 2023 será um absurdo, mas para quem enxerga a economia no curto prazo a vida está melhor do que há alguns meses. Esse eleitorado é o que deixou de rejeitar o presidente, mas ainda não decidiu o voto. É onde Bolsonaro concentra os seus esforços hoje.
O problema desta estratégia é que ela tem um teto. Se tudo der certo, Bolsonaro chega a 38%-40% dos votos e garante o segundo turno, mas não passa disso. Enquanto a tática de Lula é ceder ao centro _ seja colocando Geraldo Alckmin como candidato a vice, seja prometendo um governo de “união nacional”_, a de Bolsonaro é a de ser ainda mais Bolsonaro, sem concessão alguma.
A perspectiva de um segundo governo de é a de ampliar o poder de Arthur Lira sobre o Congresso, dos evangélicos sobre a indicação de ministros do Supremo, dos garimpeiros sobre o Ibama, dos fazendeiros sobre a liberação de agrotóxicos, dos caçadores sobre as armas e dos militares sobre mais cargos no governo. É um “mais-do-mesmo radicalizado”. Bolsonaro quer reconquistar seus ex-eleitores sem oferecer acordo, apenas que eles se submetam a sua pauta.