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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Alckmin virou decorativo

Ainda sem função, ex-tucano não mudou o discurso de esquerda da campanha de Lula

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 Maio 2022, 14h50 - Publicado em 2 Maio 2022, 11h06

A biruta de aeroporto dos ventos da Faria Lima está mudando. Depois de dar de barato que Lula da Silva venceria no primeiro turno em dezembro, ganharia com folga em fevereiro, a turma do mercado financeiro já aposta em uma disputa renhida, com o presidente Jair Bolsonaro com leve favoritismo. O que mudou? A improvisação da campanha Lula e, principalmente, o desapontamento com a falta de importância de Geraldo Alckmin na campanha.

Desde que abandonou o PSDB para ser o vice de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin apareceu publicamente em duas ocasiões ao lado do novo companheiro de chapa. Num evento sindical, em São Paulo, em março, num discurso aos gritos como nunca foi do seu feitio, chamou Lula de “o maior líder popular deste país”. Na semana passada, em Brasília, um Alckmin constrangido ouviu em silêncio ao lado de Lula o centenário hino da Internacional Socialista na abertura do Congresso do seu novo partido, o PSB. Alckmin ainda não entendeu o seu papel. Nem Lula.

Em março, quando Lula declarou numa fala de improviso que o aborto deveria ser uma política pública de saúde, o telefone da assessoria de Alckmin não parou. Eram bispos e cardeais católicos querendo entender o que estava acontecendo. Alckmin, que soube da declaração de Lula junto com o público, conseguiu que no dia seguinte Lula recuasse, dissesse que ele pessoalmente era contra o aborto e o assunto fosse sepultado pelos petistas. Em troca, a CNBB não soltou nota e nenhuma autoridade católica cobrou o candidato. Era a sua estreia como apagador de incêndios na campanha. Até agora, no entanto, ele não foi chamado para mais nada. É um candidato a vice decorativo, na clássica definição do ex-vice Michel Temer.

Conservador nos costumes e liberal na economia, Alckmin foi convidado para simbolizar a promessa de Lula de formar um governo de união nacional, capaz de juntar antigos adversários em torno da ameaça de um segundo governo Bolsonaro. No início deu certo e parte da elite baixou as armas contra Lula e o PT esperando novos gestos ao centro. Segue esperando.

Passados quatro meses de convivência da dupla, nenhuma ideia liberal na economia ou conservadora nos costumes foi incorporada ao discurso lulista. Por enquanto, Alckmin parece mais empenhado que a relação dê certo – e isso inclui reforçar publicamente a sua fidelidade a Lula – do que o contrário.

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Parte disso se deve a um erro de avaliação de Lula, que considerava que o PT assimilaria facilmente a incorporação de Alckmin na chapa. Embora o Diretório Nacional tenha aprovado a nova chapa por 68 a 16, a resistência interna ainda não foi vencida. Mesmo a ala moderada considera que a chegada de Alckmin teria desanimado a militância, que olha para Alckmin como uma possível nova versão de Michel Temer.

Isso explica por que todos, absolutamente todos, os discursos de Lula nas últimas semanas foram para agradar o eleitor de esquerda. Para fechar o apoio do minúsculo PSOL, por exemplo, a coordenação da campanha Lula incluiu no programa a revogação da reforma trabalhista (por uma questão semântica, Lula preferia a palavra “revisão”), fim do teto de gastos, controle estatal da Petrobras, aumento do salário mínimo e políticas públicas de combate à LGBTfobia. É como se a campanha Lula estivesse pagando um pedágio à esquerda para ter Alckmin no time.

Só Alckmin sem poder é apenas um troféu, um verniz tucano para uma chapa de esquerda. Ninguém vai se enganar.

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