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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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A queda de Ernesto Araújo não muda nada

Quem manda na política externa é Bolsonaro e seu filho. E assim vai continuar

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 mar 2021, 12h40 - Publicado em 29 mar 2021, 11h18
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  • A substituição do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é daqueles enredos de roteiristas ruins, atores canastrões e finais previsíveis. Araújo é o mais medíocre ocupante do posto em duzentos anos, mas aqui vai um spoiler: a sua queda não vai mudar em nada a política externa brasileira. Por dois anos e três meses, Araújo fingiu ser o responsável pela diplomacia, mas foi apenas o laranja do deputado Eduardo Bolsonaro, o filho 03 do presidente com pretensões internacionalistas. Não importa quem estiver no Itamaraty, enquanto houver um Bolsonaro no Planalto, a diplomacia será bolsonarista.

    É cômodo achar que o embate entre Araújo e os senadores é entre a chamada “ala ideológica” do governo e o pragmatismo. Na argumentação dos senadores, Araújo foi um entrave nas negociações para encomenda de vacinas contra Covid. Bobagem. Quem foi o entrave foi o presidente Jair Bolsonaro. Araújo foi, no melhor dos casos, um acólito prestativo. Mas onde estavam os senadores hoje tão preocupados com a saúde popular quando o governo brasileiro se recusava a negociar com outra empresa que não fosse a AstraZeneca? Acertou, eles não faziam nada.

    Com seu tirocínio de bode, Araújo virou o expiatório perfeito. Quem assiste pode achar que os senadores estão atuando, enquanto o presidente Bolsonaro segue sem responder pelos seus atos para impedir a vacinação dos brasileiros. Os dois lados ganham e só o público (você prezada leitora, você prezado leitor) é enganado.

    Assim como aconteceu com outros ministros menos privilegiados pela sensatez, Araújo foi convencido a sair atirando. No domingo (28/03), insinuou que a pressão pela sua queda está relacionada com o lobby chinês na licitação da tecnologia 5G. É possível que Araújo se considere um daqueles personagens de filmes de guerra que fica para trás para segurar os inimigos e morrer ganhando tempo para que seus amigos se salvem. Como escrevi no início, os atores são canastrões.

    O que vai ocorrer no Itamaraty depois da queda de Araújo é o mesmo que está acontecendo no Ministério da Saúde após a troca do general Eduardo Pazuello pelo médico Marcelo Queiroga: nada. Hoje (29/03), uma semana depois de empossado, Queiroga anunciou a criação de uma secretaria especial para cuidar do combate à pandemia. Como alguém não pensou nisso antes? Esqueça anestésicos e oxigênio nos hospitais, esqueça contratação de mais médicos, esqueça mais leitos, esqueça apoio federal pelas tentativas de lockdown, esqueça mais pressa por mais vacinas. Quem acredita que Comitês ou Secretarias especiais resolvem alguma crise acredita em boitatás.

    Araújo, Pazuello, Weintraub e Wajngarten foram só acidentes de percurso. O responsável continua no Planalto.

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