O saldo das três pesquisas divulgadas nesta semana — Ipec, Datafolha e Ipespe/Febraban — é que Lula começa 2024 com pouca gordura para queimar. Se havia alguma ilusão no Palácio do Planalto, os números indicam que a lua de mel acabou. A fatia de eleitores que votou em Bolsonaro está se reaglutinando em torno da desaprovação do governo, numa evolução esperada numa sociedade de polarização calcificada como a nossa.
Eleito no olho mecânico, vítima de uma tentativa de golpe em 8 de janeiro e conduzindo uma maioria instável no Congresso, o governo Lula tem motivos para comemorar os resultados das pesquisas. Depois de um ano no poder, líderes como o americano Joe Biden, o alemão Olaf Scholz, o francês Emmanuel Macron, o colombiano Gustavo Petro e o chileno Gabriel Boric já eram reprovados pela maioria dos seus cidadãos. O saldo entre quem considera o governo ótimo/bom vrs. ruim/péssimo ou aprova vrs. desaprova é de 8 pontos percentuais no Ipec e Datafolha e de 9 pontos no Ipespe/Febraban.
O melhor exemplo do reagrupamento antipetista está no Datafolha. Na média da pesquisa divulgada na quinta-feira, dia 8, o governo Lula é considerado ótimo e bom por 38% dos eleitores e 30% como péssimo ou ruim. Nos bolsões bolsonaristas, contudo, Lula é reprovado por 38% entre os eleitores evangélicos, 39% entre os eleitores com curso superior, 39% com os moradores do Sul. 47% dos eleitores que ganham mais de 10 salários mínimos mensais consideram Lula como ruim ou péssimo.
Entre os eleitores lulistas, o quadro é sintomaticamente inverso. No Ipespe/Febraban, três de cada cinco eleitores acreditam que o Brasil vai melhorar em 2024. O otimismo com o Brasil nos próximos doze meses é maior entre as mulheres (60%), os mais jovens (60%) aqueles com instrução até fundamental (64%), na faixa de renda até 2 salários mínimos (61%) e moradores do Nordeste (65%). Todos esses segmentos têm em comum o voto majoritariamente em Lula na última eleição.
A bateria do Ipec incluiu três perguntas interessantes:
1. À pergunta “De modo geral, o governo do presidente Lula está sendo melhor, igual ou pior do que o(a) sr(a) esperava?”, as respostas foram:
· 32% – melhor
· 30% – igual
· 35% – pior
2. À pergunta “Pensando na situação econômica do Brasil neste momento, o(a) sr(a) diria que ela está melhor, igual ou pior do que estava seis meses atrás?”, as respostas foram:
· 39% – melhor
· 23% – igual
· 36% – pior
3. À pergunta “Daqui a seis meses, o(a) sr(a) acredita que a situação econômica do Brasil estará melhor, igual ou pior do que hoje?”, as respostas foram:
· 45% – melhor
· 19% – igual
· 30% – pior
Deve-se registrar que quando a pergunta é mais emocional (expectativa sobre Lula), o apoio ao governo é menor do que quando a pergunta é racional (sobre economia). Ter só um 32% de “o governo atendeu as expectativas” ante um “39% acha que hoje a economia está melhor” e “45% a economia vai melhorar” confirma que a rejeição pessoal bolsonarista a Lula se reestruturou e indica que o único fator que pode afetar essa polarização é uma melhora no sentimento na economia.
Se Lula precisasse de um conselho para 2024, seria usar esse otimismo da maioria da população para a economia e colar o seu governo em medidas que afetem o dia a dia das pessoas. Mais Desenrola e menos Gaza, por assim dizer.