O prefeito Bruno Covas, que morreu neste domingo, 16, aos 41 anos, carregava nos ombros um sobrenome pesado. Quando ainda era criança, o avô foi o líder do PMDB na Constituinte que enfrentou o governo Sarney para antecipar as eleições. Perdeu. Depois, fundou do zero um novo partido e foi candidato a presidente. Perdeu. Foi candidato a governador e perdeu de novo. E a cada derrota, o avô parecia ficar maior. Quando Bruno era adolescente, o avô enfrentou um câncer. Não escondeu de ninguém e quando morreu, em 2001, não era apenas um político que os demais olhavam com respeito. Mário Covas simbolizava uma ascendência moral em um campo da vida pública no qual caráter poucas vezes aparece.
Bruno foi um deputado e um vice-prefeito mediano, mas cresceu ao virar prefeito, em 2019. Comprou brigas morais (como o pedido de expulsão de Aécio Neves do PSDB), montou um secretariado independente das opiniões do seu antigo chefe, João Doria, e manteve com Guilherme Boulos a disputa de maior nível na política brasileira em décadas. Como o avô, enfrentou o câncer publicamente. Perdeu, mas como o avô a sua coragem foi maior que a morte.
Como contou a repórter Camila Matoso, da Folha, mesmo no hospital, Bruno Covas mantinha o humor. Divertiu-se ao ser instado a voltar para o front: “A gente entra na política pelos amigos e não sai dela por causa dos inimigos”, disse, e riu.
Políticos de os matizes irão divulgar notas sentimentais sobre a morte do prefeito de São Paulo. Se Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, João Doria, Tasso Jereissati, Eduardo Leite, Luciano Huck, Luiz Mandetta e João Amoêdo quiserem realmente homenageá-lo, poderiam formar um pacto: o de respeitar os resultados das urnas de 2022. Os democratas precisam mostrar que não têm medo da ameaça de golpe. A maior saudação que se pode fazer ao sobrenome Covas é separar o chão entre a política do debate e a política do ódio.