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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)

A anistia é só o começo

Para apoiar alguém fora da família, Bolsonaro quer volta da agenda de confronto com o STF

Por Thomas Traumann
Atualizado em 23 jun 2025, 11h46 - Publicado em 23 jun 2025, 11h18

Prestes a ser condenado a algumas décadas de prisão, Jair Bolsonaro exigiu meses atrás que os candidatos da direita se comprometessem com uma anistia ampla para todos os envolvidos no golpe fracassado de 2022 e 2023. Um a um, os governadores Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Junior deram declarações defendendo a anistia. Tarcísio de Freitas, que formalmente é candidato à reeleição em São Paulo, também defendeu passar a borracha em tudo. Agora, o preço subiu: não basta ao candidato apoiado por Bolsonaro dizer, é preciso garantir que vai enfrentar o Supremo Tribunal Federal – mesmo que pelo “uso da força” – para devolver a liberdade e o protagonismo político a Jair Bolsonaro. 
 
A exigência explicitada pelo filho mais velho do clã, o senador Flavio Bolsonaro, em entrevista à Folha, foi ampliada logo em seguida pelo filho número 3, o deputado Eduardo Bolsonaro, que afirmou a blogueiros de extrema-direita que a família não aceitaria uma eleição com candidatos apenas da “direita permitida”, o eufemismo para os quatro governadores. 
 
Em entrevista aos repórteres Thaísa Oliveira e Marianna Holanda, da Folha, o senador Flavio Bolsonaro explicitou a obrigação do candidato apoiado pela família enfrentar o STF e se ofereceu para ser o mediador de um acordo que, em troca da salvação de Jair Bolsonaro, daria uma anistia ao ministro Alexandre de Moares. As principais declarações:
 
“Se acontecer de o Bolsonaro ser condenado, a gente não sabe qual vai ser a reação do povo, a reação internacional. Tem coisas que não estão no nosso controle. Acho que é muito ruim eles (ministros do STF) insistirem nesse caminho porque aí a confusão vai se estender por muito mais tempo. A pauta de impeachment de ministro do STF vai ser uma das principais da eleição”.
 
“(Depois da condenação de Bolsonaro) Ele está inelegível, vai ter que apoiar alguém. Não só vai querer apoiar alguém que banque a anistia ou o indulto, mas que seja cumprido. Porque a gente tem que fazer uma análise de cenário também de que, na hipótese de o presidente dar um indulto para Bolsonaro, o PT vai entrar com um habeas corpus no STF. (O STF vai declarar que) é inconstitucional esse indulto. Então vai ter que ser alguém na Presidência que tenha o comprometimento, não sei de que forma, de que isso (a anistia) seja cumprido”.
 
Mas como? 
“É uma hipótese muito ruim, porque a gente está falando de possibilidade e de uso da força. A gente está falando da possibilidade de interferência direta entre os Poderes. Tudo que ninguém quer. E eu não estou falando aqui, pelo amor de Deus, no tom de ameaça, estou fazendo uma análise de cenário. É algo real que pode acontecer. Bolsonaro apoia alguém, esse candidato se elege, dá um indulto ou faz a composição com o Congresso para aprovar a anistia, em três meses isso está concretizado, aí vem o Supremo e fala: é inconstitucional, volta todo mundo para a cadeia. Isso não dá. Certamente o candidato que o presidente Bolsonaro vai apoiar vai ter que ter esse compromisso, sim.”
 
Mas qual seria a alternativa?
“(O candidato escolhido por Bolsonaro precisa ser) alguém que tenha disposição, de alguma forma, de fazer com que o STF respeite os demais Poderes. Fazer com que o Alexandre de Moraes não continue sendo o dono dos votos de outros ministros, como parece.”
 
O que o sr. está pedindo não é um candidato que possa afrontar o STF?
“É um candidato que possa resgatar a democracia. Vai depender do ponto de vista, está vendo?”
 
Um candidato que esteja disposto a brigar por isso.
“Acho que sim, porque não tem outro caminho. Se continuar nessa toada, o Brasil não vai estar em uma democracia, porque é uma interferência direta de um Poder no outro. A competência exclusiva para dar um indulto é do presidente. Esse precedente só mudou porque era o (ex-deputado bolsonarista preso por ordem do STF) Daniel Silveira, porque o presidente era o Bolsonaro. 
 
Quem teria esse perfil hoje? 
“Ninguém vai assumir ‘sou o candidato que vai fazer isso ou aquilo’. Não adianta a gente ficar especulando nomes. Vai ter que ter uma habilidade para evitar que isso aconteça e, ao mesmo tempo, fazer com que as coisas voltem à normalidade. Mais uma vez: estou disposto a ser um canal aberto para pensar junto o que fazer e insistindo que o caminho honroso é a anistia (de Bolsonaro).
 
Tem muita gente que gosta de pedir apoio, mas não quer ter o ônus de ombrear com ele (Bolsonaro) nessa batalha de deixá-lo elegível novamente. As pessoas têm que fazer o exame de consciência para merecerem o apoio do Bolsonaro. É na dificuldade que você sabe quem são os amigos e quem são as pessoas reais.”
 
Em entrevista para youtubers bolsonaristas, o deputado federal Eduardo Bolsonaro insinuou que os governadores não representam a direita como ele mesmo:
 
“Sem Bolsonaro, a gente não vai ter uma eleição normal no Brasil. A gente vai ter uma eleição onde, no máximo, poderá ser eleita uma ‘direita permitida’, o que fica longe de atender aos anseios populares, o que significa dizer que o establishment ainda seguirá dando as cartas no Brasil”.
 
“Eu desconfiaria (dos candidatos apoiados pelo mercado financeiro), né? Acho que, quando você entra na vida pública, tem que priorizar o interesse público, e não deste ou daquele segmento. Ainda mais quando você assume certas posições, com relação a alguns parlamentares e pessoas que foram eleitas na aba de Bolsonaro e que não se pronunciam sobre certos assuntos”. 
 
“As pessoas que pensam diferente do Bolsonaro, que acham que ele é uma página virada, ainda não têm conforto para dizer isso abertamente e serem eleitas. Elas sabem que precisam de Bolsonaro para sua eleição”.  
 
“(Existe) uma torcida para que o Bolsonaro esteja fora do jogo, para que isso abra caminho para essa, entre aspas, ‘nova direita’. Mas acho que, cada vez mais, você vai depurando (quais os candidatos são de fato fiéis a Bolsonaro)”.
 
 
Em editorial, o insuspeito Estadão foi duro:  
“A chantagem explícita – condicionar o apoio político de Bolsonaro à concessão de um indulto juridicamente descabido e a um compromisso de confronto violento com o STF – não é apenas mais um atentado à ordem constitucional sustentada, entre outros pilares, pela separação de Poderes. É uma declaração de guerra à própria democracia brasileira. A desfaçatez com que o sr. Flávio Bolsonaro disse o que disse mostra que o senador não traiu a genética: o golpismo corre nas veias da família. Não chega a ser uma novidade, pois sempre que as leis e as instituições contrariaram os interesses do clã Bolsonaro, as ‘saídas’, digamos assim, cogitadas passaram, necessariamente, por intimidações, ameaças e movimentos de ruptura”.
 
O Globo também compreendeu as declarações como ameaça: 
“Evidentemente esse tipo de declaração não tem cabimento num regime democrático. Ainda que Bolsonaro venha a ser condenado e que um presidente futuramente lhe conceda indulto, o STF teria o dever de analisar se o benefício cumpre os dispositivos constitucionais. Negar-lhe essa prerrogativa seria desrespeitar a independência dos Poderes”.
 
Flávio e Eduardo declaram em público o que o pai diz em privado. Com o apoio ostensivo de Bolsonaro, qualquer um dos quatro governadores chegará ao segundo turno contra Lula em 2026. A questão é se o preço desse apoio será tão alto que talvez impeça a vitória.

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