TCM Traz Raízes de Volta à TV
Hoje, às 21h, o canal TCM estreia a minissérie “Raízes/Roots”, clássico dos anos 70 que revolucionou a forma como o afro-americano era visto na televisão, estabelecendo o formato minissérie que surgiu nos EUA na mesma época. Exibida em 1977, a minissérie “Raízes” conquistou ao longo de seus 12 episódios cerca de 71% da audiência americana. […]
Hoje, às 21h, o canal TCM estreia a minissérie “Raízes/Roots”, clássico dos anos 70 que revolucionou a forma como o afro-americano era visto na televisão, estabelecendo o formato minissérie que surgiu nos EUA na mesma época.
Exibida em 1977, a minissérie “Raízes” conquistou ao longo de seus 12 episódios cerca de 71% da audiência americana. A produção registra a terceira maior audiência da TV dos EUA até hoje, ficando atrás de “M*A*S*H”, com 77%, e “Dallas”, com 76%. Em fevereiro desse ano, uma partida do Super Bowl quebrou o recorde do último episódio de “M*A*S*H” em número de telespectadores, mas ficou em quarto lugar no número de residências sintonizadas no programa, registrando 68%.
A minissérie é uma adaptação de William Blinn, de “Oito é Demais” e “Starsky & Hutch”, Alex Haley, James Lee, M. Charles Cohen e Ernest Kinoy, do livro de Alex Haley, “Roots: the Saga of An American Family“. Com produção de David L. Wolper (recentemente falecido) e Stan Margulies a direção ficou a cargo de Marvin J. Chomsky, John Erman, David Greene e Gilbert Moses. Indicada a 37 prêmios Emmy, ganhou apenas nove.
A história inicia com a vida de Kunta Kinte (LeVar Burton, de “Jornada nas Estrelas: a Nova Geração”), capturado na África no final da década de 1760 e levado aos EUA como escravo. Vendido a um fazendeiro (Lorne Greene, de “Bonanza”) de Maryland, Kunta recebe o nome de Toby e é posto sob a guarda de Fiddler (Louis Gossett Jr.), outro escravo, que tem a missão de ensinar-lhe inglês e as regras de como se comportar. Após várias tentativas de fuga, passando por castigos cada vez piores, Kunta Kinte aceita sua situação de escravo.
A minissérie acompanha a vida de Kunta Kinte ao longo dos anos, passando por seu casamento e o nascimento de sua filha. A trama segue adiante acompanhando a vida de sua filha, seu neto e seu bisneto, passando pelas mudanças políticas e sociais até chegar à Guerra Civil Americana e o fim da escravidão nos EUA. A história é real, narrando as vidas dos antepassados de Alex Haley, descendente de Kunta Kinte.
“Raízes” foi exibida pela ABC, que temia ‘enterrar’ sua audiência com uma produção estrelada por afro-americanos transformados em heróis e os brancos em vilões. Para garantir o interesse do público, o elenco de atores brancos foi escolhido ‘a dedo’, trazendo nomes consagrados e queridos pelo público da época, como Lorne Greene, Chuck Connors, Ed Asner, Vic Morrow, Ralph Waite, Robert Reed, Gary Collins, Carolyn Jones, Lloyd Bridges, George Hamilton, Yvonne De Carlo, Doug McClure e muitos outros.
Outra estratégia foi a de incluir alguns personagens brancos com um mínimo de consciência dos direitos humanos, para tentar aliviar o peso daqueles que tratavam escravos como animais. Para completar, Fred Silverman, diretor de programação do canal na época, decidiu fazer algo diferente: exibir a minissérie em oito noites consecutivas com episódios de maior duração, para ‘queimar’ de vez a produção caso ela não conseguisse atrair o interesse do grande público.
A estratégia de exibição e o sucesso de audiência estabeleceram uma nova forma de exibir as minisséries que, até então, recebiam o mesmo tratamento das séries de TV: a exibição de um episódio por semana.
“Raízes” deu credibilidade às carreiras de vários atores afro-americanos, como os já mencionados LeVar Burton e Louis Gosset Jr., bem como, John Amos, Ben Vereen, Georg Stanford Brown, Richard Roundtree, Cicely Tyson, Yaphet Kotto, Ji-Tu Cumbuka, O.J. Simpson e Moses Gunn, entre outros.
A presença do afro-americano na TV começou a ser melhor recebida a partir da metade dos anos 60. Mas apesar de alguns estrelarem séries de TV como “Júlia”, “Os Destemidos”, “Mod Squad” e “Room 222″, posteriormente “The Jeffersons”, “Sanford and Son” e “Shaft”, a maioria ainda estava em uma situação de coadjuvante. Mesmo assim, sua cultura e sua situação social não eram os centros das atenções na produção seriada. “Raízes” veio para garantir a aceitação do afro-americano na TV.
Ao começar a ser produzido nos EUA em 1976, com “Pobre Homem Rico/Rich Man Poor Man”, o formato minissérie abriu um caminho inexplorado pelas séries até então: a história única e contínua ao longo de um número predeterminado de episódios. Inicialmente produzidas com o objetivo de adaptar obras literárias, as minisséries passaram a oferecer roteiros originais ao longo dos anos.
As histórias contínuas ainda são uma temeridade para a TV aberta, visto que uma produção pode perder público caso a audiência não goste da trama oferecida, prejudicando sua venda para reprises. Com o sucesso de “Raízes”, a produção de minisséries estabeleceu-se criando um novo nicho de mercado, influenciado, posteriormente, a narrativa das séries de TV.
Em 1979 a ABC exibiu uma continuação da minissérie, que recebeu o título de “Roots: The Next Generations”, que acompanha a vida dos descendentes de Kunta Kinte entre 1882 e 1967. A audiência chegou a marcar 110 milhões de telespectadores ao longo de sete episódios produzidos, conquistando cerca de 50% do número de residências. Em 1988, um telefilme natalino foi exibido com o título de “Roots: The Gift”, narrando uma situação entre Kunta Kinte e Fiddler, que teria ocorrido entre os episódios dois e três da minissérie original.
“Raízes” será exibida de segunda a sexta, às 21h, com reprises de segunda a sexta, às 12h.