A primeira versão de ‘A Grande Família’
Esta semana, a TV brasileira perdeu o ator Jorge Dória, que faleceu aos 92 anos de idade no dia 6 de novembro. Conhecido por seus trabalhos em novelas, bem como em filmes e teatro, Dória estrelou uma série importante na TV brasileira: A Grande Família. Ele foi o primeiro ator a dar vida ao personagem […]
Esta semana, a TV brasileira perdeu o ator Jorge Dória, que faleceu aos 92 anos de idade no dia 6 de novembro. Conhecido por seus trabalhos em novelas, bem como em filmes e teatro, Dória estrelou uma série importante na TV brasileira: A Grande Família. Ele foi o primeiro ator a dar vida ao personagem Lineu.
Criada por Max Nunes e Marcos Freire, com direção de Milton Gonçalves, a série foi inspirada no sucesso de Tudo em Família/All in the Family que, por sua vez, era um remake da britânica Till Death Us Do Part. Após seis episódios, exibidos no final de 1972, a série entrou em sua segunda temporada, quando a direção passou para o comando de Paulo Afonso Grisolli, que convidou Oduvaldo Vianna Filho, conhecido como Vianninha, e Armando Costa para escreverem os novos episódios.
Vianninha fez carreira no teatro, estabelecendo-se na década de 1960 com peças que exploravam questões sociais e políticas no cotidiano do brasileiro. Ele trabalhou com Costa no Teatro Opinião, juntamente com Paulo Pontes, que também faria parte da equipe de roteiristas de A Grande Família.
A inclusão desses autores na equipe de roteiristas transformou a série em um marco da TV brasileira, pois o grupo passou a imprimir críticas sociais e políticas nos episódios, que mostravam uma família de classe média baixa tentando driblar os problemas econômicos e políticos pelos quais o Brasil da década de 1970 passava. Temas como censura, inflação, desemprego, falta de dinheiro, de segurança e de perspectivas, entre outros, eram tratados em diversos episódios, muitas vezes de forma sutil para não ser censurada. Mesmo assim, muitas falas e cenas inteiras foram cortadas ao longo de sua produção.
Na história, Lineu (Dória) é um veterinário casado com a dona de casa Irene, conhecida como Dona Nenê (Eloisa Mafalda), com quem tem três filhos, Júnior (Osmar Prado), um estudante de medicina com visões políticas e sociais de esquerda; Arthur, o Tuco (Luiz Armando Queiroz), um hippie que aproveita ao máximo sua liberdade, o que o leva a ter dificuldades de manter um emprego; e Maria Isabel, mais conhecida como Bebel (Djenane Machado), uma dona de casa como a mãe, casada com Agostinho (Paulo Araújo), garçom de um motel. Na casa também vive o Vovô (Brandão Filho), um aposentado que passa os dias dormindo no sofá. Durante a segunda temporada, Djenane decidiu deixar o elenco da série, sendo substituída por Maria Cristina Nunes, filha de Max Nunes, um dos criadores.
A série estreou no dia 26 de outubro de 1972. Ao longo dos três primeiros anos em que foi produzida, a série foi exibida em preto e branco. Apenas no último ano é que a Globo passou a exibir A Grande Família em cores. Basicamente, a série foi cancelada porque Vianninha faleceu, vítima de câncer. A morte ocorreu em 1974, o que levou a Globo a suspender a produção. O canal convenceu Pontes a assumir o comando da série, que retornaria para uma última temporada em 1975. Quando Pontes decidiu deixar a produção, a série foi cancelada, com um total de 105 episódios produzidos.
Em 1987, a Globo exibiu um especial natalino que reunia os atores e personagens de A Grande Família. Com roteiro de Marcílio Moraes e direção de Grisolli, o episódio apresentou o natal da família doze anos após o fim da série.
Em 2001, uma nova versão começou a ser produzida. Com roteiros de Adriana Falcão, Bernardo Guilherme, Cláudio Paiva, Marcelo Gonçalves, Mauro Wilson, Max Mallmann, Nelson Caldas, Nilton Braga e Péricles Barros, a nova versão de A Grande Família levou a família de São Paulo para o Rio de Janeiro. A primeira temporada chegou a adaptar textos da série original mas, ao entrar em seu segundo ano de produção, a nova versão passou a oferecer episódios inéditos.
A nova versão eliminou o personagem Júnior, que era o responsável pelas críticas sociais e políticas da série original. Com isso, o conteúdo crítico da nova versão não se compara ao que era apresentado na década de 1970.