Volta da novela ‘A Viagem’ expõe o assunto que virou tabu da Globo
Folhetim dos anos 1990 volta à grade da emissora no vespertino 'Vale a Pena Ver de Novo'

Exibida em 1994, a novela A Viagem ainda hoje é reconhecida como um dos grandes sucessos da história da rede Globo. Tanto que foi reexibida diversas vezes – e volta ao Vale a Pena Ver de Novo nesta segunda-feira, 12. A trama criada originalmente por Ivani Ribeiro, que teve uma primeira versão na TV Tupi em 1975, se inspira nos livros de Chico Xavier, entre eles Nosso Lar, um sucesso estrondoso no cinema. A força que o tema ainda tem nas telas grandes, porém, não se vê mais na televisão: antes um filão popular na rede Globo, as novelas espíritas se tornaram um tabu – refletindo a busca da emissora em agradar a ampla parcela do público cristão, especialmente evangélico, que passou a boicotar o canal nos últimos anos.
O retorno de A Viagem à grade da emissora em horário vespertino expõe essa ausência na faixa das novelas inéditas. A trama, que nos anos 1970 marcou a história da TV como a primeira de inspiração espírita, foi seguida por hits como O Profeta (outra de Ivani, de 1977, e que teve um remake em 2006), Alma Gêmea (2005), Páginas da Vida (2006), Escrito nas Estrelas (2010), Além do Tempo (2015), e mais. A boa fase do tema na rede Globo chegou ao fim – ou ao menos à uma pausa indefinida – em 2018, com Espelho da Vida (2018), assinada por Elizabeth Jhin, que foi demitida da emissora em 2021. A autora decidiu não trabalhar mais na televisão e, em entrevista ao site Na Telinha, em 2023, explicou que a razão para essa postura seria o fato de que “hoje, o escritor tem que enquadrar sua narrativa a uma série de regras ligadas a ideais políticos. São justos e necessários, mas discordo da maneira como são impostos”.
A (in)direta diz respeito, claro, a sua saída da Globo em pleno governo de Jair Bolsonaro, um inimigo declarado da emissora, e da chegada de Amauri Soares, em 2020, ao posto de diretor geral da TV Globo. O comentário no meio é que Amauri chegou a desenvolver uma cartilha para os autores da casa, com os temas que devem ser evitados e os que são bem-vindos das produções. O resultado se vê na tela: mais tramas de família, menos cenas de sexo e nenhum beijo gay — e pouquíssimas alusões à religiões não-cristãs.
Sobre o que é a novela A Viagem?
A trama exibida em 1994 mostra o desenrolar das ações do problemático Alexandre (Guilherme Fontes), que comete um crime e depois se suicida na prisão. Ele volta como um espírito obsessor para assombrar e se vingar do irmão Raul (Miguel Falabella), do advogado Otávio (Antonio Fagundes) — o qual Alexandre considera responsável por sua condenação –, e do cunhado Téo (Maurício Mattar) que é casado com Diná (Christiane Torloni), a irmã que tentou livrá-lo da Justiça.