Um dos episódios mais memoráveis da série Black Mirror, Volto Já (originalmente Be Right Back) conta a história de Martha (Hayley Atwell), uma mulher em luto após perder o namorado, Ash (Domhnall Gleeson), em um acidente de carro. Grávida, a personagem decide contratar um serviço de tecnologia inovador para conseguir ouvir a voz do amado novamente. Na produção, a inteligência artificial vasculha as redes sociais de Ash e consegue reproduzi-lo como se ainda estivesse vivo. Depois, o robô escala para uma versão mais avançada, transferindo a tecnologia para um corpo feito de carne sintética, idêntico ao do morto. A distopia criada na famosa série acaba de ganhar contornos reais: uma empresa prometeu um serviço bem parecido –com exceção do robô em carne sintética (por enquanto).
Sediada na Califórnia, HereAfter AI, que em tradução livre faz um trocadilho com a frase Aqui Depois de Tudo, quer permitir a comunicação dos vivos com o Além, a partir da criação de uma versão digital de uma pessoa, combinando ferramentas de voz e de inteligência artificial avançada em um aplicativo. Obviamente, o serviço funcionará apenas para pessoas que ainda estão vivas, já que a ideia é que o programa sirva como um biógrafo, que registrará as lembranças do usuário. Aos poucos, a pessoa responderá a centenas de perguntas da inteligência artificial, que as armazenará para criar um avatar pessoal. Dentro do questionário de hábitos e lembranças, há perguntas como prato favorito e experiência que mudou a vida, fazendo com que o usuário registre a resposta por áudio.
Depois, o aplicativo da HereAfter AI categoriza e organiza todas as histórias sobre infância, relacionamentos e personalidade, por exemplo, e desenvolve uma versão virtual da pessoa. Também será possível o envio de fotos, vídeos e documentos que ajudem a aprimorar o produto final. Com isso, família e amigos poderão acessar as lembranças da pessoa falecida no futuro. Apesar de a ideia ser interessante para pessoas sofrendo com o processo do luto, há a necessidade de ponderar se este tipo de tecnologia seria mentalmente saudável. Em um artigo do MIT Technology Review, publicação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, a ferramenta de imortalidade foi criticada por ser uma espécie de prolongamento do luto e fuga da realidade.