Quando surgem no primeiro episódio de The White Lotus, Harper e Ethan estão claramente desconfortáveis. Mesmo na belíssima Sicília, em um resort chiquérrimo, os dois destoam do casal que lhes acompanha na viagem de férias, Daphne e Cameron, que não se desgruda por nem um mísero minuto. A sensação de estranhamento continua, sendo constantemente renovada por outros acontecimentos ao longo dos oito episódios da série que chegou ao fim neste domingo — com a revelação dramática sobre quem foi a vítima da vez de Mike White, criador do programa da HBO.
Aubrey Plaza e Will Sharpe interpretam Harper e Ethan, o casal que vive amparado pela honestidade acima de tudo e sem demonstrações falsas de romance. A combinação, eventualmente, expõe a frieza que cresce entre os dois, jornada representada com brilho pelos atores. Aubrey tem uma carreira consolidada nos Estados Unidos como comediante, especialmente no filão de humor ácido, por seu modo que transita entre o riso e o deboche. Já Sharpe tem uma carreira promissora por trás das câmeras, como diretor e roteirista, mas mostra em The White Lotus que sua veia dramática continua pungente. Os dois falaram a VEJA sobre a experiência na série, sem spoilers, confira:
A conexão entre o elenco é um ponto alto da série que se repetiu nessa segunda temporada. Como é feito esse trabalho?
Aubrey: Acho que ajudou muito o fato de termos nos hospedados todos no mesmo hotel, em Taormina (costa leste da Sícilia). A cidade é pequena, pouco movimentada, então pudemos explorar a cidade, sua cultura, e convivermos uns com os outros.
Will: Nós tivemos muito tempo para conhecer uns aos outros como elenco; foi uma experiência imersiva. Nos envolvemos e ainda tínhamos em comum o fato de estarmos na Sicília, um lugar desconhecido para nós, e interpretando personagens que estão de férias ali. Era uma combinação de situações que ajudou muito a criar essa conexão.
A dinâmica entre casais é parte essencial do DNA da série. Nessa temporada, se destacaram as relações de Harper e Ethan e Daphne e Cameron (Meghann Fahy e Theo James). Como foi explorar esse relacionamento que acredita ser perfeito, até perceber que não é bem assim?
Aubrey: Acho que o Mike White [criador da série] trafega pela parte cinza das relações, e nunca pelo preto e branco, ou o certo e o errado. Ele esmiúça o meio-termo. É fácil assumir que um casal como Harper e Ethan é nobre, correto e esperto, mas, conforme se aprofunda na história, percebemos que talvez o outro casal é o que funciona melhor, pois eles vivem melhor e o relacionamento deles é mais feliz – e ninguém pode dizer o que está certo ou errado ali, contanto que eles tenham um acordo particular.
Will: A trama é também sobre as complexidades morais de um relacionamento. Quando Ethan e Harper encontram um casal que age de forma tão distinta comparado a eles, isso expõe as rachaduras do casamento aparentemente perfeito.
Como analisam o contexto financeiro em torno dos seus personagens, já que eles são “novos ricos”?
Will: O fato de que eles enriqueceram recentemente os coloca numa situação estranha. Eles precisam encarar situações que antes não lhes atingiam. No fundo, tudo se volta para questões mais amplas e existenciais: como, quem eles são individualmente? Quem eles são como um casal? Eles estão felizes? Eles são um bom casal? Os dois dizem a si mesmos que são muito abertos e honestos um com o outro, mas existem questões para ambos que não foram comunicadas.
Há muita fofoca por trás das costas de outros casais nesta temporada. Como foi trabalhar com o Theo e a Meghann essa dinâmica um tanto tóxica?
Aubrey: Foi muito divertido interpretar casais tão diferentes. Diversos momentos cômicos saíram dessa interação.
Will: Sim, eu concordo. Foi ótimo trabalhar com eles. E acho que é uma ótima situação que Mike criou, na qual há várias tensões dentro e entre os casais; parece que eles acabaram saindo de férias sem pensar direito, por engano, e agora devem conviver com isso.
Sem spoilers, como analisam essa jornada do começo ao fim?
Will: Acho que a liderança do Mike White faz a diferença. Ele é divertido e colaborativo e, às vezes, tenta se fazer de relaxado, fazendo piadas como “eu não sei o que estamos fazendo”; mas, na verdade, nos sentimos bem seguros, porque ele é muito meticuloso e tão bom em criar as minúcias da maneira como os humanos interagem uns com os outros. Eu me senti muito privilegiado em trabalhar com ele e aprendi muito ao longo do caminho, com certeza.