Insultado por um antigo pupilo durante uma coletiva de imprensa, Ted Lasso (Jason Sudeikis) é pressionado pela proprietária do time inglês que ele treina, o AFC Richmond, a reagir com vigor às ofensas para defender sua equipe. Ex-técnico de futebol americano do Texas que luta para ser aceito em outro esporte e país, o caipira prefere, porém, dar a cara a bater com elegância: declara que achou engraçado ser chamado de “péssimo” pelo ex-assistente que virou comandante de um clube rival. “Ele é esperto: encontra uma fraqueza e ataca. Só lamento que não tenha pensado em uma piada melhor, como dizer o quanto sou um ‘americano burro’ que não entende nada de futebol”, brinca o técnico no início da terceira temporada da série que leva seu nome.
Ted Lasso, que acaba de ter sua nova leva de episódios lançada na Apple TV+, surgiu no caótico ano de 2020 — e logo se revelou um respiro frente ao baixo-astral da pandemia graças à principal caraterística de seu protagonista: o otimismo inquebrantável. Mas, ao longo de duas temporadas, a trama provou ser mais que mero vetor de escapismo. Embora a garra de Lasso seja inspiradora, o programa expõe certo lado B: os problemas mentais que afligem mesmo quem nunca se rende ao derrotismo. A fórmula resultou num desempenho recorde para uma série de comédia em seu ano de estreia no Emmy, maior premiação da TV americana: vinte indicações — faturando sete estatuetas em 2021, e mais quatro em 2022.
Believe: The Little Guide to Ted Lasso
A pandemia acabou, mas a cruzada de Ted Lasso não perdeu sua razão de ser. Num momento em que o reacionarismo machista mostra sua face perigosa em movimentos como o Red Pill, a terceira temporada surge como um antídoto à famigerada “masculinidade tóxica”, expondo com sensibilidade os dilemas dos marmanjos. Na contramão do clichê do técnico agressivo e mal-educado, o personagem oferece simpatia, empatia e sinceridade. O americano Lasso vira figura paterna dos jogadores do Richmond, mostrando-lhes que vulnerabilidade não torna ninguém menos viril. Em entrevista a VEJA, Jason Sudeikis, que também é um dos criadores da série, reforçou que a trama busca preservar sua essência inspiracional. “Quando estávamos gravando a segunda temporada, a terceira já estava escrita. Sabíamos para onde queríamos ir: mergulhar ainda mais fundo na evolução dos personagens”, disse.
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Na nova temporada, o próprio Ted sofre adoidado. Ele enfrenta a saudade do filho, que ficou nos Estados Unidos — e seus ataques de pânico persistem. A despeito disso, segue alimentando seus jogadores com doses cavalares de motivação. A energia solar do bigodudo deixa uma mensagem que não vale só para os machões, mas seres humanos de todos os gêneros e idades: com esperança e resiliência, qualquer um pode atingir a melhor versão de si mesmo. E, quem sabe, até marcar um gol de placa na vida.
Publicado em VEJA de 22 de março de 2023, edição nº 2833
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