Série nacional da Amazon, ‘Lov3’ observa o amor sob várias formas
Série discorre sobre temas pouco comuns para a TV aberta, apostando na liberdade temática advinda das plataformas de streaming

Nova aposta nacional da Amazon Prime Video, a série Lov3 — que estreia na plataforma nesta sexta-feira, 18 — reforça o quanto o crescimento do mercado de streaming anda de mãos dadas com uma maior liberdade temática e criativa nas produções. Com boa dose de drama, a série que se diz comédia acompanha três irmãos que se deparam com o fim do casamento de trinta anos dos pais, enquanto, paralelamente, navegam por suas próprias narrativas de autoconhecimento e descobrem novas formas de viver o amor e o sexo.
Ana (Elen Clarice) e os gêmeos Sofia (Bella Camero) e Beto (João Oliveira), descritos como “sobreviventes de um mesmo desastre”, vivem encontros e desencontros ao longo de seis episódios. A direção de arte descolada mira o público jovem afeito de séries como Euphoria, além da aposta em temas controversos, caso do poliamor e da não monogamia. O seriado, porém, passa longe da qualidade da trama da HBO, e se revela uma espécie de Malhação para maiores de idade — possível justamente por não estar atrelada à grade da TV aberta. “No streaming, podemos fazer projetos com uma identidade independente, no sentido de pautar questões que digam respeito a uma sociedade em transformação, lançar novos talentos, e introduzir novos temas”, falou a VEJA Felipe Braga, um dos diretores de Lov3.
Gustavo Bonafé, também diretor da série, afirma que a tendência de investimento de gigantes do streaming no mercado audiovisual brasileiro beneficia seus profissionais para além da liberdade temática. “A chegada do streaming muda a quantidade de projetos e de oportunidades, e também o tipo de produto. O leque a que o brasileiro tem acesso hoje é muito maior, e ele começa a pedir coisas diferentes, então mexe com o mercado inteiro”, diz. Ele destaca o crescimento de produções de gênero, que antes não eram tão frequentes em terras brasileiras, como o suspense.

A própria união entre comédia e drama vista em Lov3 seria reflexo dessas mudanças. “Revoluções tecnológicas provocam mudanças de hábito de consumo que, por sua vez, transformam a própria linguagem narrativa e colocam sobre nós criadores outros desafios para contar essas histórias”, pensa Felipe Braga. Para o diretor, Lov3 é uma contribuição à discussão sobre o que é fazer comédia nos dias de hoje. “Antigamente, as comédias eram transmitidas semanalmente e, quando você voltava, os personagens estavam definidos do zero. Quando o espectador assiste uma temporada inteira numa noite, a comédia sofre uma pressão narrativa para se programatizar e demonstrar arcos de personagens que se transformam”. Dessa forma, os personagens acabam ganhando um grau de dramaticidade que precisa ser compensado pela comédia em outros pontos.
Integrando o time de diretores, Mariana Youssef ressalta que a série não é uma comédia linear. Por isso, “os momentos de silêncio e do personagem com ele mesmo são ouro nesse projeto, porque tem muito diálogo e interação, mas também é uma série que fala sobre questões muito internas”, analisa.

Para os atores de Lov3, o trabalho permitiu o mergulho no debate sobre outras formas de amar e ser amado. “A série retrata algumas das milhares que existem, e quanto mais você entra em contato, ouve histórias e conhece pessoas, mais isso vai se naturalizando e você pode se abrir para entender quais são suas vontades, seus desejos, e o que pode funcionar para você”, disse Bella Camero à VEJA.
Em relação ao streaming, João Oliveira também observa o potencial estrangeiro em patrocinar novas histórias para o mercado nacional. “Que bom que temos a legitimação de outros países trazendo possibilidades para que a gente conte novas histórias e descentralize os protagonismos até então postos”, pensa. Ele enxerga isso como um espaço de “salvação” para os atores, em um momento difícil no que diz respeito ao fomento à cultura no Brasil. “O streaming vem como uma chance de ressurgimento da confiança e da possibilidade transformadora da cultura na nossa sociedade. De alguma maneira é simbólico que esse movimento tenha que vir de fora”, aponta João.