Autora de Vai na Fé, atual novela das 7 da Globo, Rosane Svartman ostenta um currículo admirável de trabalhos e se destaca como uma das maiores expoentes da dramaturgia contemporânea. Nos últimos anos, foi responsável por tramas de ótimo desempenho no ibope, como Bom Sucesso (2019), Malhação Escolhas (2012) — assinada com Glória Barreto, e Totalmente Demais (2015) — parceria com Paulo Halm. Em entrevista a VEJA, Rosane explica sobre os elementos que usa para construção de um produto com roteiro interessante e que gera boa repercussão, principalmente nas redes sociais. Confira a conversa:
Como que surgiu a ideia de escrever uma novela abordando a religião evangélica? Quando eu estava fazendo a pesquisa qualitativa de Bom Sucesso, percebi que havia um percentual muito grande do público que se considerava evangélico. A Paloma (protagonista vivida por Grazi Massafera) era católica e falava com uma santa na praça, frequentava a igreja e se consultava com um padre. Aí isso me instigou a pensar em uma personagem parecida com a Paloma, que era mãe de família e também passista de escola de samba. Em Vai na Fé, a Sol (Sheron Menezzes) é evangélica e dançarina, porque é isso, a mulher não é uma coisa só, ela pode ser uma boa mãe e ter suas atividades próprias. Quando comecei a escrever a novela veio a ideia de abordar a fé, que é um valor tão importante para o brasileiro e me parecia um ótimo assunto.
Pelo que acompanhamos, nenhum personagem é maniqueísta, certo? Apesar da gente ter um vilão, uma mocinha todos esses arquétipos do melodrama, eu acho que a gente tem nessa novela especificamente — o que não considero uma regra de jeito nenhum, cada um tem seu estilo — é que todo mundo pode errar, aprender.
Vai na Fé foi concebida com a intenção de ter tanto protagonismo negro? Foi natural pensar, diante dos números e estatísticas que precisa, sim, ter uma representatividade e diversidade em todos os sentidos. Fez sentido durante a construção da sinopse ao ver dados socieconômicos qual público nós gostaríamos de impactar.
Quais cuidados a novela adota para para contar a história de uma forma que não soasse errada, equivocada? É muito importante ao escrever ter escuta. É essencial ouvir, entender outros pontos de vista, até porque uma novela não pode desagrada um espectador que pode simplesmente mudar de canal e fazer outra coisa. Eu sempre procuro trazer um ponto de vista prismático, principalmente para questões mais delicadas durante a trama, porque a gente quer levantar essas questões lá na novela. Então temos consultores jurídicos, médicos, religiosos. Tem que ter consultoria porque a gente não escreve novela para ofender e nem desrespeitar ninguém.
A que você credita o sucesso da repercussão de Vai na Fé? Eu tenho uma equipe de roteiro cheio de pessoas talentosas e que têm olhares, origens e experiências bem diferentes, e isso contribui bastante. Eu tenho ao meu lado mentes brilhantes, como Renata Corrêa, Pedro Alvarenga, Renata Sofia, Sabrina Rosa, Fabrício Santiago e Mário Viana. E também tem um fator importante que é ter referências. Acho que grandes histórias partem de grandes referências, muito do que eu faço é fruto de tudo que estudei ao longo dos anos.