A série Bom Dia, Verônica — que trata de violência contra a mulher e abuso sexual — conta agora com seu personagem, Jerônimo, um criador de cavalos misterioso e sedutor. Como foi construí-lo? Fui trabalhando pouco a pouco, desconstruindo umas coisas e tentando encontrar uma verdade para o personagem dentro desse universo que é (sem querer dar spoiler)eugenista. Ele acredita que precisa ser puro, que precisa ter uma linhagem pura, e eu tentei imaginar como seria estar na pele de alguém assim.
Quais são as intenções de Jerônimo? Ele expressa uma série de elementos absurdos que estão presentes no mundo em que vivemos — e é baseado em casos de pessoas sobre as quais eu encontrei referências na internet. Infelizmente, existem bases reais nessa história. Deparei no Instagram com indivíduos horríveis como ele.
As conexões incômodas com abusadores reais tornaram mais difícil interpretá-lo? Foi duro, como sempre é num momento em que você investiga a escuridão, em que precisa entrar em um lugar com essa complexidade. O trabalho do ator é mergulhar e se despir um pouco das coisas. Só que nunca é fácil: é desafiador, dolorido, mas também ensina muito. Essa é uma série com personagens que fazem coisas terríveis e levantam questões a serem debatidas no mundo de hoje, como a vaidade que nos exige nada menos do que a imagem da perfeição. Os personagens trazem uma série de provocações para serem discutidas nas nossas vidas.
Foi proposital conferir um corpo malhado a um tipo tão perverso? Sim, eu tive uma preparação física que decidi fazer porque achei que precisava para o personagem. Vi que ele requisitava esse tipo físico musculoso.
Na nova temporada você protagoniza um beijo gay com outro ator conhecido (cujo nome é aqui omitido para não estragar a surpresa). Como espera que o público reaja à cena? De fato, é uma cena forte e chocante, mas que está completamente dentro da história. Não tem nada de gratuito nesse beijo — eu até entendo que possa ser visto como tal, mas o fato é que eu tive um grande companheiro de cena, que eu já conhecia, mas com quem ainda não tinha contracenado.
E foi difícil? Não. Nós trabalhamos muito esse momento, ensaiamos, conversamos com o autor, Raphael Montes, e o diretor, José Henrique Fonseca, porque é uma cena que envolve bastante técnica. E precisava causar impacto: o resultado surpreende, e acho que vai ser impactante para o espectador.
Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2024, edição nº 2879