Quando Harris foi oficializada como presidenciável democrata após a dramática renúncia de Joe Biden, em julho passado, uma artista foi convocada de forma simultânea para a batalha política das eleições americanas: a atriz, cantora e comediante Maya Rudolph. Famosa por sua hilária personificação de Harris no humorístico Saturday Night Live durante a campanha em que ela se tornou vice de Biden, em 2020, Maya naturalmente voltou a ser presença constante na TV do país. “É a primeira e única vez que vejo o mundo determinar o que farei antes de tomar minha decisão”, disse a humorista de 52 anos à Variety. Ela vai retomar suas imitações da candidata no programa a partir de 28 de setembro.
Kamala Harris: A vida da primeira mulher vice-presidente dos Estados Unidos – Dan Morain
Com passagem de sete anos pelo antológico SNL e vasta carreira em séries e filmes, Maya era um rosto familiar, mas foi relegada a papéis coadjuvantes e esquecida por premiações até 2020. Naquele ano, tudo mudou quando Biden selecionou Harris como sua vice. Os cacoetes da política — da risada estrondosa ao jeito de “tia bacana” — logo se tornaram alvo de piadas. Antes que Biden assumisse a Casa Branca, a atriz já havia conquistado seu primeiro Emmy pela imitação. De lá para cá, sua estante tem ficado apertada: vieram mais cinco vitórias por outros trabalhos.
As Verdades que Nos Movem – Kamala Harris
O sucesso é merecido. Filha da mítica cantora Minnie Riperton, do standard Lovin’ You, ela poderia ter seguido os passos da mãe na música, mas se sentiu intimidada pelo legado. Prefere dedicar as cordas vocais às canções cômicas e à banda de tributo a Prince da qual é vocalista, a Princess. O lado musical, mesmo assim, vem a calhar nas imitações: já arrancou risos como Dionne Warwick, Maya Angelou e Beyoncé. No papel de Harris, emula o tom caloroso e o bom humor da presidenciável com timing notável. Na vida real, ela a apoia sem cair na adulação — não se faz de rogada ao satirizar a linguagem jovial do Partido Democrata e a relação da vice com o presidente de 81 anos.
Come To My Garden – Minnie Riperton [Disco de vinil]
A faceta afiada de seu humor se expande a projetos como a série Fortuna, da Apple TV+. Na produção que lhe rendeu indicação recente ao Emmy, vive uma mulher que ganha 87 bilhões de dólares ao se divorciar de um magnata e decide investir pesado na filantropia. Enquanto isso, a própria Maya leva uma vida modesta. Ela forma um grupo de amigas poderosas do humor com Amy Poehler e Tina Fey, e é casada com o discreto Paul Thomas Anderson, cineasta com quem tem quatro filhos. A depender da sorte de nas urnas, Maya ainda vai dar muito o que falar.
Publicado em VEJA de 20 de setembro de 2024, edição nº 2911