O ator Marcelo Serrado dominou as redes sociais nas últimas semanas após falar abertamente sobre episódios de crises de pânico que sofreu antes, durante e após uma viagem com a família para a Disney, em Orlando. Ao embarcar para os Estados Unidos, ele relatou ter sentido uma agonia forte e a certeza de que algo ruim ia acontecer. Por sorte, viajou ao lado de um piloto que o acalmou, mesmo sem saber que ele estava tendo uma crise. Depois, ao tentar retornar para o Brasil, Serrado não conseguiu subir no mesmo avião que sua família e precisou ser acolhido na casa de amigos até o dia seguinte, quando foi possível para ele embarcar — medicado. Em entrevista a VEJA, o artista de 57 anos contou quando surgiram os primeiros sintomas, seus motivos para expor o problema de saúde mental e como anda seu tratamento conta ansiedade.
Confira a entrevista na íntegra:
O senhor vem sofrendo com crises de ansiedade e pânico desde 2020. Lembra qual foi o primeiro gatilho? Foi meio pela pandemia, como foi para quase todo mundo. As pessoas estavam morrendo, havia o medo de morrer, a insegurança com a vida, sempre fui ansioso e talvez isso tenha corroborado, mas foi um junção de fatores. Fui atrás de terapia, medicamentos, e aí passou, fiquei três anos sem ter nada. E naquela minha rotina corrida de rodar filme, fazer novela, série, etc, entrei de férias agora e explodiu dessa forma. Em 2020 eu até dei algumas palestras sobre o assunto, achei que tivesse superado e, em uma decisão inconsequente, parei de tomar a medicação por conta própria, sem falar com médicos. Errei.
Como foi a repercussão dos vídeos que postou sobre as crises? Quando eu comecei a fazer palestras eu vi que queria ajudar outras pessoas com o mesmo problema, cerca de 30% da população sofre com isso, e eu queria desmistificar o assunto, mostrar que não é frescura, que não é bobagem. As mensagens que eu recebi enquanto eu estava no aeroporto lá em Miami, quando eu não embarquei com a minha família na volta, vi umas 2000 e poucas mensagens, obviamente não consegui ler tudo, mas a maioria me confortou muito. Eu pensei: ‘Caraca, como a internet é engraçada, ela é tão nociva às vezes, tem perigo de fake news e tal, mas ela também pode servir como uma ferramenta de amor e união’. Então, ali eu vi que não estava sozinho.
A maioria dos homens não fala abertamente sobre saúde mental. Teve medo de julgamentos em algum momento? Eu fiquei feliz de poder falar, porque eu sou uma pessoa que tem voz por ser uma pessoa famosa. A saúde mental atinge qualquer um, não tem idade, credo, classe social, qualquer pessoa pode sofrer disso. E essa coisa de falar que é ‘mimimi’ ou frescura sempre me incomodou muito porque só quem viveu algo assim sabe como é. A gente não tem que ser super-homem, a gente pode ser vulnerável e frágil também, podemos chorar, pedir ajuda. A gente pode. E qual o problema disso? Não tem problema nenhum. Foi um momento de vulnerabilidade mesmo. Quantos homens são assim e passam por isso em silêncio? Devemos mostrar cada vez mais para a sociedade e mudar essa mentalidade, porque ninguém deve achar que aquilo é uma fraqueza. Tudo que a gente quer nesse momento é ter um apoio, as pessoas precisam se sentir acolhidas quando estão passando por uma crise. Não se pode minimizar isso.
Quais tratamentos tem feito desde 2020? Hipnose, terapia, já passei com psicólogo e psiquiatra e tomo medicamento também. Agora estou tentando não mexer no celular antes de dormir também, fazendo exercícios todos os dias.
Quando desembarcou em Miami, após a primeira crise da viagem, como ficou seu estado? Eu fiquei 10 dias meio que cabreiro, o tempo todo nas férias meio grilado, vendo que eu tinha que voltar, sem saber como ia ser. Fiquei fazendo terapia de lá, fiz exercício, beleza, chegou a hora de voltar. Estava tranquilo, mas aí explodi, não consegui embarcar de volta. Liguei para o meu médico, que me aconselhou a pegar um assento na janela, e acabou que voltei meio dopado de Rivotril. Eu tive isso em um momento de lazer, não tirava férias com a família há muitos anos, não fazia sentido ter essa crise em um momento assim. E aí, depois que postei meu relato, vi que muitos famosos também sofrem com isso, vi Ivete Sangalo, Rafael Portugal comentando, tanta gente. Mas aí você vê que a saúde mental requer atenção, é preciso cuidar dela.
Como seus filhos, Catarina, de 18 anos, e os gêmeos Felipe e Guilherme, de 9, reagiram quando o senhor não voltou com eles de Miami? Foi difícil não ter conseguido voltar, mas a minha esposa, Roberta, explicou tudo para eles, assim que eu disse para ela que não ia conseguir voltar. Ela acalmou, disse: ‘Olha, papai tá sentindo isso, isso e isso, acontece com muita gente em viagem’. Eles já sabiam mais ou menos o que estava rolando, mas eu também avisei que tava tudo bem. Eu tive o primeiro ataque de pânico no primeiro voo e aí segurei por muito tempo lá. E depois que eu fiquei, imagina, fiquei sozinho, sem a família, em um aeroporto, em um país que não é o meu. Mas na hora que eu saí do aeroporto eu me senti muito melhor.
Como foi a volta? Eu tive que pegar um voo com escalas, então parei no Panamá após duas horas e meia de viagem. Depois peguei um voo de cinco horas para o Brasil. Mas no Panamá eu cogitei pegar um carro e dirigir pela América Central até em casa, mas aí eu ia chegar em um mês, mas essa loucura passou pela minha cabeça. Mas é o que se passa na cabeça das pessoas que sofrem de síndrome do pânico, você quer evitar riscos. Mas agora estou me tratando e está tudo bem.
E quanto a seus próximos projetos, Beleza Fatal, da Max, e O Jogo que Mudou a História, do Globoplay, o que pode adiantar? Em O Jogo que Mudou a História eu interpreto o assistente do governador no oitavo episódio, é uma série incrível. E Beleza Fatal é uma novela com a experiência do streaming, assim como a Netflix vai ter em breve Pedaço de Mim. Mas, Beleza Fatal é do Raphael Montes, que é um craque, um gênio que conseguiu fazer uma novela extremamente contemporânea, visceral, e eu faço um médico na história. É uma série que fala sobre beleza e como as pessoas estão obcecadas por ela. E também tenho uma peça nova com a Heloísa Périssé, uma comédia chamada Quem Mandou Agora Aguenta. Queremos fazer as pessoas rirem e se divertir. É uma coisa que cura a minha alma.
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