Em comparação a outras mocinhas de sua carreira, qual a intensidade dramática da personagem de Pedaço de Mim? Em termos de drama, a Liana é nota 10. Sabe aquela máxima de que dois raios não caem no mesmo lugar? Para a Liana, caíram. O imponderável que acontece na vida dela é algo que poucas pessoas sabem até que é possível de ocorrer. Além de viver um drama de severidade extrema, ela tem de lidar com questões que vêm da sociedade, como o machismo. Ela é a personagem mais dramática que já vivi.
Já tinha chorado tanto em um melodrama? Eu tenho essa facilidade não de chorar, mas de me deixar afetar pela cena. Não é algo que eu precise usar um truque. O material que a cena me dá sempre é suficiente para trabalhar a emoção. Claro que, quando envolve maternidade, como no caso da Liana, o caminho fica mais direto para acessar esse fio da emoção. Eu sou mãe. É algo que experimento todo dia.
O que a atraiu para um projeto assim no streaming? Acima de tudo, ter um pouco mais de liberdade. Na Globo, eu tinha feito um pouco de tudo o que uma atriz pode querer. O que sinto é a possibilidade de dizer: quero trabalhar com essas pessoas, quero poder mexer um pouco num texto. Existe um jogo mais livre aqui no streaming que eu estava a fim de experimentar. Na Globo, você não tem tanto disso às vezes, e nem é porque os autores não sejam abertos, mas pela falta de tempo. É um ritmo muito insano.
Liana é uma mulher conservadora que sofre com o machismo. De onde veio a inspiração para vivê-la? É difícil se inspirar numa pessoa só e é difícil não usar as próprias experiências e os exemplos que se tem em casa. Então, claro, ela tem um pouco da minha mãe. A Liana tem essa personalidade muito “agradadora”: você não pode dizer “não”. Vivi um pouco disso na minha criação. Com toda essa vida de atriz, a gente tem de aprender na marra a dizer “não”, senão é engolida por tudo. Fui compelida sempre a agradar, e sei das dificuldades. Minha terapeuta também.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2023, edição nº 2856