Hermeto Pascoal, 86, sobre volta ao palco pós-pandemia: “Me sinto ansioso”
Com agenda de shows cheia, instrumentista genial se apresenta na capital paulista - e, ainda bem, descarta aposentadoria da música

Maestro, compositor e instrumentista premiado com um Grammy, Hermeto Pascoal ostenta 86 anos, saúde e vigor. O artista famoso por criar músicas geniais com absolutamente qualquer objeto se apresenta neste final de semana em São Paulo, no Blue Note, clube de jazz localizado na Avenida Paulista. Em conversa com VEJA, o astro musical conhecido como “bruxo barbudo” fala sobre a sensação de retornar aos palcos após a pandemia da Covid-19 – e rejeita qualquer ideia de aposentadoria. Hermeto Pascoal dará seu show manuseando teclado, chaleira, piano, escaleta, flauta baixo, copo com água, sanfona, entre outros objetos. Além disso, o veterano se apresenta com seu grupo, formado por André Marques (piano), Fabio Pascoal (percussão), Ajurinã Zwarg (bateria), Itiberê Zwarg (baixo e tuba) e Jota P. (saxes e flautas).
Confira:
Terá alguma coisa diferente nesse novo show? É sempre diferente porque eu sou de sentir as coisas e tocar, não sou de preparar nada, justamente porque sou muito intuitivo, cada momento em que toco e canto conta uma história diferente da outra. Me sinto ansioso, como se estivesse começando de novo, porque ficamos muito tempo sem tocar [por causa da pandemia]. Mas gosto de entrar no palco e criar.
O que o senhor sente que mudou no público após a pandemia? Eu sempre sinto o público como uma família e, dependendo do país, a plateia tem um jeito, um pouco mais frio ou mais caloroso. Percebo que o público sempre espera algo inédito, mas eu estou sempre em busca em fazer uma música intuitiva, de acordo com a recepção das pessoas.
Devido ao isolamento provocado pela pandemia, o senhor criou algum tipo de hobbie? Eu continuei fazendo música em casa mesmo. No meu show vai ter sempre uma parte criada ali na hora, então eu não costumo registrar, só faço, porque tudo que é bom e criativo não se repete nunca mais em uma apresentação minha. Eu não paro de tocar, de escrever, não deixo minha mente desocupada.
Dá para ver que o senhor está cheio de saúde. Mas, por acaso, o senhor tem planos de se aposentar? Não dá, nem que se eu quisesse, porque espírito não se aposenta. O tempo que Deus me deu nesse carrinho que dirijo na Terra estou vivendo, assim como todos nós. Quando Ele vacilar, aí eu vou embora, mas a música não morre. Cada um de nós tem um espírito, uma missão, e a minha foi fazer a coisa que eu mais amo, que é a música. Eu estou já com bastante idade, meus 86 anos não negam, mas uma das minhas maiores alegrias é ser entrevistado por jovens como você.
O que o senhor espera do futuro da música instrumental com essas novas tecnologias que estão surgindo? A gente tem de ter esperança e fé de que a música vai ser sempre melhor, sempre movida pelo “sentir”. Não podemos apressar as coisas, então essas novidades chegarão quando tiverem que chegar.
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