Freiras bocudas e fogosas são o novo pecado-sensação da Netflix
Despudorado, o filme 'A Comédia dos Pecados' promete ruborizar espectadores desavisados

Com uma música sacra ao fundo, uma freira caminha ao longo de uma bela planície na primeira cena de A Comédia dos Pecados (The Little Hours), filme de 2017. O momento idílico dura pouco: ao encontrar outra freira, a primeira reclama do escuro hábito religioso escolhido pela colega num dia de verão e, assim que o simpático caseiro, um senhor sexagenário, se intromete na conversa para desejar um simples bom dia, recebe de volta os mais variados xingamentos — quem assiste em inglês ouvirá a impublicável f***, que na dublagem em português foi amenizada para um “que merda”.
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Este é só o primeiro de muitos sustos que um bom católico terá ao apertar o play no longa que conquistou o ranking de popularidade da Netflix — em segundo lugar, atrás somente do problemático (e quase pornográfico) 365 DNI. Se o primeiro colocado da lista de mais vistos do canal de streaming deixa claro logo no cartaz a que veio — corpos sarados em jogos sexuais —, o segundo engana à primeira vista com as três angelicais freiras que passam longe dos estereótipos que acompanham suas vestimentas.

Inspirado em um trecho do clássico e satírico O Decamerão, de Giovanni Boccaccio, escrito no século XIV, as freiras do filme medieval estão prestes a fazer o juramento sagrado para abdicar dos prazeres sexuais — algo bem difícil para o fogoso trio. Alessandra (Alisson Brie) é a romântica que faz tudo para ver a felicidade da família em primeiro lugar, até aceitar a missão religiosa em vez do casamento carnal. Ginevra (Kate Micucci) é a dedo-duro, que funciona como os olhos do convento. As duas são retiradas de suas obrigações celestiais pela rebelde Fernanda (Aubrey Plaza) que esconde um misterioso segredo. A promessa de celibato das três é colocada em xeque com a chegada de um novo caseiro, o apetitoso jovem Mosseto (Dave Franco). Começa então a comédia escrachada que promete ruborizar muitos espectadores — e até provocou uma nota de repúdio da Igreja Católica no seu lançamento, em 2017.
Para além de arrancar boas risadas dos mais despudorados, o filme, que além de palavrões é repleto de cenas de sexo das mais variadas, revela, por assim dizer, uma nova fase do humor do brasileiro na quarentena. Se no início do isolamento social, o ranking da Netflix foi tomado por produções que tinham epidemias como temática, o período do meio deu espaço para comédias besteirol escapistas, que amenizavam o momento difícil. Agora, a popularidade de A Comédia dos Pecados e 365 DNI revelam que os anseios carnais são os novos favoritos dos assinantes da plataforma. Em tempos de pandemia, o pecado está a um clique de distância.