Impulsionada pelo furor das redes sociais e domínio da linguagem digital informal, a CazéTV vem demonstrando grande poder de influência sobre jovens com a proposta de “democratizar” o acesso a eventos esportivos — caso da Olimpíada de Paris 2024, competição que divide os direitos de transmissão digital com a Globo. Nos últimos dias, o canal do streamer Casimiro Miguel — grande ídolo de boleiros e simpatizantes na internet –, porém, tem gerado desconforto entre atletas e fãs de esportes após polêmicas envolvendo alguns de seus apresentadores e convidados de programas.
Pouco depois do início da Olimpíada, no programa Zona Olímpica, da CazéTV, chamou a atenção a participação de Nathaly Dias, conhecida como Blogueira de Baixa Renda, que tentou repercutir uma fofoca viralizada no X (antigo Twitter) a respeito de uma suposta relação amorosa e conturbada entre Gabriela Guimarães e Sheilla Castro, atual ponta da seleção brasileira de vôlei e ex-jogadora do mesmo esporte, respectivamente. Na ocasião, Adenízia da Silva, também ex-atleta do vôlei e apresentadora do programa, se incomodou com as investidas da influenciadora para falar das antigas colegas. O “climão” gerou burburinho nas redes sociais, e mais tarde, Adenízia e o colega, Guilherme Beltrão, se pronunciaram na CazéTV dizendo que a proposta da atração não era fazer “fofoca” de ninguém. De acordo com Nathaly, o ocorrido a fez ser atacada na internet, e ela temeu ser prejudicada comercialmente por isso.
Passados alguns dias, o próprio Guilherme Beltrão se tornou foco de outra polêmica. Também durante uma edição do Zona Olímpica, na última quinta, 1º, o amigo de Casimiro e youtuber de um canal de humor, fez piada com atletas do nado sincronizado, dizendo: “o camarada do nado sincronizado, que não tem chance de medalha, tem que ir por dois objetivos: se superar e comer gente”. A fala causou revolta em atletas da modalidade como da medalhista pan-americana Gabi Regly (que não se classificou para Paris), que publicou um vídeo lamentando o “comentário infeliz”. Casimiro defendeu Beltrão e a CazéTV, alegando que não estavam diminuindo atletas brasileiros, que estavam falando de situações hipotéticas sobre atletas do nado sincronizado que, após não conquistarem medalhes, só lhes resta curtir a vila olímpica.
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No dia seguinte ao episódio, o próprio Beltrão pediu desculpa, no mesmo programa, mas com o tom de “somos assim”. “O Zona Olímpica é um programa humorístico, leve, divertido, educativo, esse é nosso programa, essa é a nossa identidade. Ontem acabou viralizando um corte que foi um pouco fora de contexto de quando a gente tava fazendo uma brincadeira, conversando entre amigos e eu convido vocês a assistir o programa inteiro, ver na íntegra, e tirar as suas conclusões. A gente traz um programa leve aqui, divertido, a gente não tem nenhuma intenção de desmerecer nenhuma modalidade, nenhum atleta, é óbvio isso, a gente ama todos os atletas brasileiros, a gente quer que todos brilhem, que todos cheguem ao lugar mais alto do pódio, e se eles não chegarem aí lugar mais alto do pódio, que eles brilhem, que sejam eles, competitivos, se superem, então a gente deixa esse recado. Mas esse é o Zona Olímpica, essa mistura boa, misturando esporte com humor. Se alguém se sentiu ofendido com a piada de ontem, a gente pede desculpa obviamente, não tem problema nenhum em admitir isso, mas é isso, sigamos em frente que atrás vem gente”.
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Apesar da tentativa de encerrar o assunto, o caso não ficou por isso. No sábado, 3, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos e a Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro, o COB, publicaram notas de repúdio sobre o episódio, rechaçando a fala de Beltrão: “A Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) repudia as declarações feitas por alguns dos integrantes do programa Zona Olímpica, da CazéTV. Os Jogos Olímpicos são o sonho de todo e qualquer atleta e nenhum outro objetivo se sobrepõe a sua performance competitiva. Por isso, se dedicam por anos até chegar ao auge do esporte. A CBDA pede responsabilidade aos veículos de comunicação ao tratar tanto da vida profissional, quanto pessoal dos atletas do esporte aquático”.
Procurada por VEJA, a CazéTV explicou que o posicionamento do canal sobre o assunto já foi ao ar pela justificativa de Beltrão no dia seguinte ao episódio.
Em meio à descontração — parte da proposta da CazéTV –, os episódios viraram argumento na boca daqueles que estão incomodados com a falta de seriedade, enquanto milhares assistem às transmissões de Casimiro e sua turma justamente por isso, por desejarem acompanhar o “papo de boteco”, o humor, etc. No mundo digital, o mesmo público que enaltece hoje pode apedrejar amanhã. E a CazéTV, que em menos de dois anos ganhou dimensões impressionantes no mercado, é mais uma prova de que nenhuma unanimidade, positiva ou não, dura para sempre quando tantas pessoas estão de olho o tempo inteiro. É o preço básico que se paga pela visibilidade. Resta saber se ajustarão os erros como profissionais ou se manterão a postura orgulhosamente amadora — algo que um dia pode incomodar até mesmo sua fila imensa de anunciantes.