3 razões para ver ‘Lost’ na Netflix – e uma para sair correndo
Série de 2004 marcou a história da TV e acaba de chegar ao catálogo da plataforma
No dia 22 de setembro de 2004, o avião 815 da Oceanic Airlines saiu de Sydney, na Austrália, rumo a Los Angeles, nos Estados Unidos. A aeronave sofreu um misterioso acidente e caiu em uma ilha no oceano Pacífico. Seus 48 sobreviventes se uniram para manter a convivência em ordem até o socorro chegar — porém, a ajuda virou um sonho distante conforme dias se passaram, e eventos estranhos sugeriam que aquela não era uma ilha qualquer. O mote principal da série Lost movimentou seis temporadas, sendo a última exibida em 2010, e causou uma revolução na TV. A produção chega agora completa ao catálogo da Netflix e para quem está em dúvida se deve ver (ou rever) o seriado, abaixo três razões para seguir em frente — e uma para sair correndo.
Lost e as mudanças nas narrativas da TV
A série de mistério virou um fenômeno por várias razões, mas, uma delas se manteve como um legado na história da TV. O programa tinha uma estrutura incomum para a televisão da época, misturando duas linhas cronológicas: enquanto mostrava o desenrolar dos acontecimentos na ilha, a produção revelava o passado dos personagens fora dali, até começar a ver o futuro, indicando o que aconteceria com parte dos sobreviventes. O uso de ganchos e mistérios na trama era feito de forma intensa, outra postura rara para um seriado em uma rede aberta — nos Estados Unidos, Lost foi exibido pela ABC. Com episódios semanais — sem a facilidade do streaming e suas maratonas –, as séries deveriam prender o espectador, mas sem irritá-lo ou dificultar muito o entendimento da história, para que ele voltasse ao canal na semana seguinte e, meses depois, para a próxima temporada. Lost quebrou vários paradigmas de então, provando que o público não deveria ser subestimado.
Os mistérios filosóficos de Lost
Tudo em Lost tem alguma conexão com conceitos complexos da vida humana — religião, filosofia, sociologia, literatura e experimentos científicos se conectam às histórias dos personagens, que carregam nomes com dicas sobre suas personalidades. O protagonista vivido por Matthew Fox se chama Jack Shephard, sobrenome que significa pastor em português; Terry O’Quinn interpretou o personagem John Locke, mesmo nome do filósofo pai do pensamento liberal e do empirismo; já a “mocinha” da trama vivida por Evangeline Lilly atende por Kate Austen, alusão à crítica autora inglesa Jane Austen. A cada virada de temporada, a série mergulha por temas variados, levando o espectador não só a saborear o momento de entretenimento, como também sair pesquisando sobre as ideias, conceitos e personagens que inspiraram os roteiristas.
Lost elevou a qualidade de se fazer TV
Hoje pode parecer banal as altas quantias gastas em séries de TV como Game of Thrones, The Crown e Succession, mas Lost nasceu na época em que a TV ainda era a prima pobre de Hollywood. Logo, tirá-la do papel foi um grande sacrifício, já que o primeiro episódio teve um orçamento astronômico para filmar a queda do avião e seus destroços na praia. Por sorte, o projeto foi adiante e deu certo. O programa foi lucrativo e entregou qualidade nas cenas, atuações e detalhes essenciais, mas que passam desapercebidos, como a trilha original e orquestrada pelo premiado compositor Michael Giacchino e a criatividade na construção dos cenários, todos rodados no Havaí, mas representando lugares como Iraque e Coreia do Sul.
E a razão para fugir de Lost
Após seis temporadas — e uma problemática greve de roteiristas no meio do caminho –, Lost, como diz o nome, se perdeu no caminho. O ponto de partida intrigante nem sempre encontrou boas saídas, ou escolheu soluções criativas que não agradaram a todos. Tanto que a série figura entre os finais mais controversos da história da TV. Lost, contudo, vale mais pela jornada do que pela linha de chegada — mesmo que esse fim não faça jus ao brilhantismo e ousadia que colocaram a série entre as produções que merecem ser lembradas.