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Sobre Palavras

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Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Xavecar, um verbo entre a paquera e a patifaria

Vagão cheio: “Bom para xavecar” (Gabriela Batista) O verbo xavecar, derivado do substantivo xaveco, é uma gíria brasileira que ganhou destaque quando a rádio Transamérica veiculou um infeliz anúncio do Metrô de São Paulo em que o locutor dizia o seguinte: “Para falar a verdade, até gosto do trem lotado, é bom para xavecar a […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 04h09 - Publicado em 28 mar 2014, 17h00

Vagão lotado: "Bom para xavecar, mano" (Gabriela Batista)

Vagão cheio: “Bom para xavecar” (Gabriela Batista)

O verbo xavecar, derivado do substantivo xaveco, é uma gíria brasileira que ganhou destaque quando a rádio Transamérica veiculou um infeliz anúncio do Metrô de São Paulo em que o locutor dizia o seguinte: “Para falar a verdade, até gosto do trem lotado, é bom para xavecar a mulherada, né mano? Foi assim que eu conheci a Giscreuza”. Quando o assunto chegou à imprensa, no início desta semana, a peça foi retirada do ar e renegada pelo Metrô, que anunciou a decisão de processar a rádio.

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A ocasião para a “informalidade” do locutor não poderia ser mais inadequada. Xavecar é um verbo que tem duas acepções básicas, segundo o bom “Dicionário de Usos do Português do Brasil”, de Francisco S. Borba: “trapacear” e “namorar, paquerar”. No entanto, uma possível alegação de emprego inocente da palavra em seu segundo sentido – como sinônimo paulista daquilo que, em carioquês, se chama de “azarar” – cai no vazio num momento em que vem à tona a atuação grotesca dos chamados “encoxadores” (mais uma palavra do português brasileiro informal) no metrô. Só este ano, a Polícia Civil de São Paulo já prendeu mais de vinte homens por assédio e abuso de mulheres nos vagões e plataformas.

Xaveco, a palavra que está na origem do verbo, estreou em nossa língua na primeira metade do século XIX e nomeava a princípio apenas um “tipo de embarcação muçulmana que, nos séculos XVIII e XIX, foi muito usado por piratas do Mediterrâneo”. A definição é do Houaiss, que registra para o termo um étimo do árabe vulgar, xabbak, “barco para pesca com rede”. As diversas acepções estendidas que o substantivo ganhou em seguida, já no campo da gíria, incluem as de “indivíduo sem valor”, “mulher feia”, “conversa fiada”, “paquera” e “patifaria”.

O Houaiss trata o verbo xavecar como brasileirismo, sem especificar as regiões em que ocorre, mas todas as suas abonações no dicionário de Borba são colhidas na imprensa de São Paulo.

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