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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

Verão, filho da primavera. Mas pode chamar de inferno

O jornalista Paulo Francis descobriu que no Rio de Janeiro só há duas estações: verão e inferno. O termômetro e a tal “sensação térmica” deixam evidente que nesta virada de ano estamos – não só os cariocas, mas a maioria dos brasileiros – em pleno inferno de Francis. Brincadeira, claro. No entanto, se o nome […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 04h43 - Publicado em 3 jan 2014, 14h43

solO jornalista Paulo Francis descobriu que no Rio de Janeiro só há duas estações: verão e inferno. O termômetro e a tal “sensação térmica” deixam evidente que nesta virada de ano estamos – não só os cariocas, mas a maioria dos brasileiros – em pleno inferno de Francis.

Brincadeira, claro. No entanto, se o nome da atual estação é mesmo verão, esta palavra tem uma história menos previsível e cientificamente certinha do que costumamos supor. Numa de suas acepções, é um regionalismo nordestino que significa “estação da seca”, de contornos cronológicos pouco precisos, mas sua própria origem guarda reservas de confusão.

O verão nasceu da primavera como, segundo o mito, Eva da costela de Adão. Veio de uma expressão do latim vulgar, veranum tempus, “tempo primaveril”, que não existia no latim clássico. Este registrava apenas ver, veris, “primavera”, e aestas, “verão”, vocábulo que é ancestral do português “estio” – um sinônimo menos usado de verão. Mas então como surgiu o próprio verão?

Inicialmente no latim popular da Idade Média, depois no castelhano verano e mais tarde no português, o verão começou sua carreira como uma quinta estação encravada entre a primavera e o estio. Numa divisão primitiva que desconsiderava o sistema científico em torno de dois equinócios e dois solstícios – momentos em que o Sol está respectivamente mais próximo e mais afastado da linha do Equador –, havia margem para um certo impressionismo.

O grande filólogo catalão Joan Corominas ensina que, entre os séculos XI e XVI, as estações na Espanha eram cinco. A metade do ano correspondente ao calor e ao “bom tempo” era dividida em três partes: primavera (do latim vulgar prima vera, “o primeiro tempo bom”), que abarcava os dois terços iniciais da primavera atual; verano, de veranum tempus (“tempo primaveril”), que compreendia o fim da nossa primavera e o primeiro terço do verão como o conhecemos; e estío (de aestivum tempus, “época de calor abrasante”), auge e parte final do verão de hoje. Em português ocorreu o mesmo.

Isso provocou alguma confusão a partir do Renascimento, quando os nomes modernos das estações começaram a se firmar tanto em espanhol quanto em português. Basta dizer que em data tão tardia quanto o início do século XVIII o padre Rafael Bluteau, o primeiro grande dicionarista de nossa língua, ainda iniciava de forma comicamente tateante seu verbete Verão: “Querem alguns que essa palavra signifique Primavera”.

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