“Olá, Sérgio! Gostaria de saber a origem da expressão ‘trancado/fechado/guardado a sete chaves’. Na verdade, é o número de chaves que me encabula. Por que sete? Tem a ver com o sentido místico e religioso frequentemente atribuído a esse número? Grato.” (Júlio César Leal)
Sem dúvida alguma, Júlio. As chaves que garantem a máxima segurança, segundo o dito popular, são sete pela única razão de que sete é um número especial, associado desde a antiguidade com o misticismo, a magia, a transcendência, a sabedoria superior.
As chaves são sete como sete são as maravilhas do mundo antigo e as maravilhas do mundo moderno, os dias do Gênesis, os sábios da Grécia, os pecados capitais, as cabeças da hidra, os anões da Branca de Neve, as vidas do gato, as léguas da bota etc.
Seduzida pelo sete desde tempos imemoriais, a imaginação popular pode ter dado um jeito de engordar um pouquinho o número de chaves para tornar mais expressiva a locução. Há indícios de que a princípio, no português medieval, dizia-se “trancado/guardado a quatro chaves”. É o que nos conta Câmara Cascudo em seu livro “Locuções tradicionais no Brasil”:
As arcas de segredo, destinadas a guardar documentos, ouro, joias, desde o século XIII em Portugal, eram de madeira sólida e com quatro fechaduras de ferro. Cada chave competia a um alto funcionário, às vezes o próprio Rei pertencia ao número dos chaveiros. Seria possível abri-la somente com a presença e a colaboração dos quatro claviculários.
Pode ser que as tais arcas de quatro chaves tenham tido um papel na formação da expressão portuguesa. No entanto, é preciso levar em conta que referências a “sete chaves” existem em relatos populares de fundo mágico de diversos países.
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