Palavra do ano: Ministro, Minister – não é cigarro, mas queima
Seis ministros de Dilma Rousseff caíram em 2011, derrubados por escândalos diversos. Ainda que fosse apenas pela insistência, a palavra do ano teria que ser “ministro”, escolhida para enfeitar a coluna do dia 19 de novembro: Ministro não é só quem está – por enquanto – no ministério da Dilma. Há ministros também em tribunais, […]
Seis ministros de Dilma Rousseff caíram em 2011, derrubados por escândalos diversos. Ainda que fosse apenas pela insistência, a palavra do ano teria que ser “ministro”, escolhida para enfeitar a coluna do dia 19 de novembro:
Ministro não é só quem está – por enquanto – no ministério da Dilma. Há ministros também em tribunais, igrejas e embaixadas. A palavra vem do latim minister, que já se prestou a ser marca de cigarro e em sua língua natal floresceu numa penca de sentidos, de “servente doméstico, escravo” (Virgílio) a “ministro d’um deus, sacerdote” (Cícero e Ovídio) e “ministro d’um rei” (Justino), como ensina o bom Saraiva.
Desde seu primeiro uso documentado em português, no século 14 – com o sentido, hoje em desuso, de “aquele que executa os desígnios de outrem; medianeiro, intermediário” (Houaiss) – poucas vezes em nossa história terá tido a palavra ministro as sinistras conotações de algo tão periclitante, tão sujeito a se estorricar, como nos últimos tempos.
Ministro Lupi, o da vez – minister Lupi – seria em etimologia poética e latim bárbaro um bando de cães vorazes escravos de um deus, a quem servem. Qual?
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Para provar que a política brasileira andou dando voltas em torno dos mesmos temas, podem fazer companhia a ministro as palavras corrupção e patrimônio. A primeira foi comentada em setembro no post “A corrupção nasceu no desvio, mas aderiu ao sistema”:
A absolvição da culpadíssima deputada Jaqueline Roriz por seus pares, na última terça-feira, deixa claro mais uma vez que essa velha ideia da corrupção como desvio ou decadência já não dá conta do principal: aquilo que a prática tem de institucional, de consagrado, de sistêmico.
No reino da matéria orgânica, o destino do que é podre é ser jogado fora para não contaminar o que é sadio, ponto final. Se não é esse o destino do corrupto, fica comprovado que alguma outra coisa – não apenas ele – não cheira bem.
A segunda veio antes, em junho, quando caiu a primeira peça do dominó dos ministros, no post “Palocci e o patrimônio”:
O patrimônio do ministro Antonio Palocci, que cresceu vinte vezes em quatro anos, é uma palavra curiosa. Vinda do latim patrimonium – que já nasceu com o sentido que carrega até hoje em português, o de conjunto dos bens paternos, posses de família, herança –, guarda com a palavra matrimônio uma reveladora relação de falsa simetria. Uma deriva de pater, “pai”. A outra, de mater, “mãe”. E terminam aí as semelhanças.
Que 2012 seja um ano rico em palavras de outro tipo.