“Presepada” é um brasileirismo informal que denuncia um ato ridículo e exibicionista, um sinônimo de “palhaçada”. “Presepeiro” é o fanfarrão, aquele que faz presepadas. Isso todo mundo sabe.
O curioso é que esses termos derivam obviamente de “presépio”, que goza de bom conceito – ou, no mínimo, de um distante respeito – na sociedade brasileira. Como uma coisa terá dado na outra?
Herdeiro do latim praesepium – que significa apenas curral, cercado onde se guardam animais –, o vocábulo “presépio” existe em nossa língua desde o século XIV com sentido religioso: o de representação cênica do nascimento de Jesus Cristo numa estrebaria.
O etimologista Silveira Bueno nos dá uma pista. Depois de afirmar que a tradição do presépio foi iniciada por São Francisco de Assis, ele registra no verbete “presepista” (sinônimo menos comum de presepeiro) que a palavra se aplica tanto a quem monta presépios quanto aos “farsantes que tomavam parte nos autos de Natal”.
Isso joga uma luz nova sobre uma das acepções de “presepada” no Houaiss (“espetáculo ridículo”) e nos permite pôr de pé uma tese: a de que a má qualidade dos atores que participavam dos presépios vivos, com seus prováveis maneirismos, para não mencionar a cenografia e os figurinos toscos – tudo isso pode ter criado as condições para o surgimento do pejorativo “presepada”.