O Nobel só nobeliza nobelizáveis
Quem não sabe que o nome do prêmio Nobel (pronuncia-se Nobél), cujos vencedores em suas diversas categorias foram anunciados esta semana, se deve ao químico sueco Alfred Nobel (1833-1896), mais conhecido como “o inventor da dinamite”? Talvez seja menos conhecido o fato de que Nobel era um personagem complexo: um químico que amava literatura, um […]

Quem não sabe que o nome do prêmio Nobel (pronuncia-se Nobél), cujos vencedores em suas diversas categorias foram anunciados esta semana, se deve ao químico sueco Alfred Nobel (1833-1896), mais conhecido como “o inventor da dinamite”?
Talvez seja menos conhecido o fato de que Nobel era um personagem complexo: um químico que amava literatura, um pacifista que dedicou a vida a tornar a nitroglicerina um explosivo fácil de manipular e ficou rico com sua rede de noventa fábricas de armamentos, mas se angustiava, dizem, por ver a larga aplicação militar de seu invento.
Nobel não criou o prêmio em vida. Como uma espécie de reparação cósmica pelos estragos da dinamite, deixou instruções em seu testamento, ao lado da maior parte da herança de solteirão sem filhos, para que fosse criada uma fundação que outorgasse prêmios polpudos (este ano, 1,2 milhões de dólares para cada um) a benfeitores da humanidade nos campos da física, da química, da medicina, da literatura e da paz.
Assim tem sido desde 1901. O prêmio que é popularmente conhecido como Nobel de economia foi um acréscimo posterior: outorgado a partir de 1969 pelo Banco Central da Suécia em homenagem a Alfred Nobel, não tem ligação oficial com a fundação homônima. Aos olhos do público, porém, trata-se de uma distinção meramente teórica, uma vez que o prêmio é anunciado junto com os outros e entregue na mesma cerimônia.
É interessante observar como a popularidade do prêmio levou a palavra Nobel a se incorporar à língua comum, dando origem a novos termos. O Houaiss registra o adjetivo nobelizável (“que ou quem é suscetível de ganhar um prêmio Nobel”) como presente em português desde 1985.
Ainda não está no Houaiss, mas consta do dicionário da Academia das Ciências de Lisboa o verbo nobelizar (“atribuir a alguém um prêmio Nobel”), que circula com certa desenvoltura na língua das ruas e dos pasquins. O particípio/adjetivo nobelizado (“que ganhou o Nobel”) não está dicionarizado, mas é sua consequência lógica.
É curioso observar que o dicionário português registra ainda “nobel”, com inicial minúscula, como substantivo comum: “o nobel Fulano”. No Brasil também existe esse uso, que é uma metonímia, mas geralmente com inicial maiúscula.