O massacre do Egito, a massa e a maça
Cadáveres numa mesquita do Cairo (Khaled Desouki/AFP) O massacre promovido pelas forças de segurança do Egito contra os partidários do presidente deposto Mohamed Mursi, com mais de 600 mortos, não deixa dúvida sobre qual é a Palavra da Semana. A mesma que foi publicada aqui há pouco mais de um ano, depois que um atirador […]

O massacre promovido pelas forças de segurança do Egito contra os partidários do presidente deposto Mohamed Mursi, com mais de 600 mortos, não deixa dúvida sobre qual é a Palavra da Semana. A mesma que foi publicada aqui há pouco mais de um ano, depois que um atirador matou 12 pessoas e feriu 70 num cinema de subúrbio de Denver, no estado americano do Colorado.
Muda a escala da matança, mudam suas implicações políticas, mas não a substância do texto, que vai reproduzida abaixo. Nem o fato de que certas palavras, infelizmente, insistem em não cair em desuso.
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Já houve um tempo em que os puristas condenaram o vocábulo massacre, chamando-o de galicismo, ou seja, importação desnecessária do francês, como se houvesse algo de intrinsecamente mau nisso. Mas os puristas, que ainda conseguiam fazer algum barulho no início do século 20, perderam todas as batalhas que disputaram: não seria impróprio dizer que foram massacrados pela dinâmica da língua.
Massacre é uma palavra familiar há tanto tempo – ganhou seu primeiro registro em português ainda no século 16 – que soam ridículas as recomendações de que deveríamos substituí-la por formas castiças como morticínio, carnificina e matança.
Curiosamente, massacre não tem nenhuma relação etimológica com massa, embora esta palavra costume aparecer em sua definição: “morte (de pessoa ou animal) provocada com crueldade, especialmente em grande número, em massa” (Houaiss). Trata-se de uma pista falsa. Se trocarmos o ss por ç, porém, o engano se desfaz.
Massa tem origem no latim massa, vindo do grego máza, “o todo, a totalidade”. Já o francês massacre – termo surgido em fins do século 11, inicialmente com a acepção de “açougue” – está ligado ao latim vulgar matteuca ou, em forma dialetal, maciuca, uma palavra derivada de mattea, nome de uma arma arcaica propícia para o ato de massacrar e que consistia num porrete com extremidade grossa e pesada. Aquilo que ficaria conhecido em português como clava ou… maça.