O general Crasso e o erro homônimo
O caso tem semelhanças com o da palavra larápio, abordado aqui há três semanas: de acordo com uma tese que faz sucesso na internet, o adjetivo crasso – que significa “grosseiro” e ganha a vida quase exclusivamente como auxiliar do substantivo erro – também teria origem num sobrenome ilustre da Roma antiga. No caso, o […]
O caso tem semelhanças com o da palavra larápio, abordado aqui há três semanas: de acordo com uma tese que faz sucesso na internet, o adjetivo crasso – que significa “grosseiro” e ganha a vida quase exclusivamente como auxiliar do substantivo erro – também teria origem num sobrenome ilustre da Roma antiga. No caso, o do ricaço, general e político Marcus Licinius Crassus, ou Marco Licínio Crasso, membro do primeiro triunvirato romano ao lado de Pompeu e Júlio César.
Os erros grosseiros teriam ganhado esse nome em referência aos graves equívocos de estratégia militar cometidos por Crassus ao perder em 53 a.C. a batalha de Carras, que lhe custou a vida.
A história é pitoresca e tentadora, como costumam ser as lendas que enriquecem o acervo da etimologia romântica. No entanto, é preciso registrar que nenhum filólogo de respeito lhe dá crédito.
A origem de crasso, segundo os estudiosos, é simplesmente o adjetivo latino crassus, que a princípio queria dizer apenas “gordo, espesso” e que só adquiriu por figuração, ainda em latim, o sentido de “grosseiro, tosco, rude”. Trata-se da mesma palavra, aliás, que está na raiz do substantivo graxa (que a princípio queria dizer “feito de gordura”).
Se o adjetivo crassus, que já era empregado pelo dramaturgo Plauto quase um século antes de Marco Licínio Crasso nascer, goza de todos os atributos para ter dado origem ao nosso crasso, inclusive na acepção de grosseiro, uma possível participação do general no sucesso da expressão “erro crasso” poderia ter no máximo um papel coadjuvante. No entanto, mesmo assim precisaria ser confirmada por fontes históricas – que nunca apareceram.