O farol de Faros contra o breu da história
O caso da palavra “farol”, substantivo masculino existente desde o século XV na língua portuguesa, é ilustrativo de como, às vezes, é preciso acender um facho de longo alcance no breu da história para enxergar a alma de uma palavra. Com uma lanterna comum, o etimologista dirá que fomos buscar o termo – que chegou […]

O caso da palavra “farol”, substantivo masculino existente desde o século XV na língua portuguesa, é ilustrativo de como, às vezes, é preciso acender um facho de longo alcance no breu da história para enxergar a alma de uma palavra.
Com uma lanterna comum, o etimologista dirá que fomos buscar o termo – que chegou a ser grafado forol em suas primeiras aparições em nosso idioma – no espanhol antigo farol (hoje faro). Não estará errado.
Um pouco mais de luz e será possível enxergar por trás do vocábulo castelhano o catalão arcaico faró. E, para além deste, à medida que a claridade for se expandindo, em rápida sucessão, o latim pharus e o grego pháros.
E só então, quando a luz do farol atingir as maiores distâncias passado adentro, compreenderemos que tudo começou com um nome próprio – o da pequena ilha de Pharos, no delta do rio Nilo, onde, entre os anos 280 e 247 a.C., foi erguida a torre que seria considerada uma das Sete Maravilhas do mundo antigo: o Farol de Alexandria (na imagem acima, uma reconstituição moderna baseada em estudos arqueológicos).
Além de português e espanhol, reflexos da ilhota de Faros, como a chamamos em português, e seu portento arquitetônico desaparecido desde a Idade Média podem ser encontrados nos vocábulos correspondentes a “farol” em muitas línguas, como francês (phare), italiano (faro), romeno (far) e até búlgaro (far).