O calote da Grécia nasceu na mesa de jogo
Protesto em Atenas (Alkis Konstantinidis/Reuters/VEJA) O histórico calote de 1,6 bilhão de euros que a Grécia aplicou no Fundo Monetário Internacional (FMI) na última terça-feira traz de volta à seção Palavra da semana um vocábulo já antiguinho que, embora seja insubstituível, ainda é considerado informal, e que foi abordado na coluna há quatro anos. Reproduzo […]

O histórico calote de 1,6 bilhão de euros que a Grécia aplicou no Fundo Monetário Internacional (FMI) na última terça-feira traz de volta à seção Palavra da semana um vocábulo já antiguinho que, embora seja insubstituível, ainda é considerado informal, e que foi abordado na coluna há quatro anos. Reproduzo abaixo o que escrevi então.
Que palavra é essa, calote?
Seu primeiro registro em português data de 1771, de acordo com o Houaiss, e não se tem muita certeza sobre sua origem. Há, porém, uma tese que concentra as fichas da maioria dos estudiosos: a de que teria vindo do francês culotte – não o calção, mas um termo do jogo de dominó.
Nas palavras do etimologista Antônio Geraldo da Cunha, culotte era o nome que se dava às “pedras com que cada parceiro fica na mão, por não poder colocá-las”. Por analogia, teria passado a designar também os títulos que sobram na mão do credor e que ele já não conseguirá receber. Ainda hoje, um dos sentidos de culotte em francês é o de “dívida vultosa contraída no jogo ou nos negócios”.
Se trocarmos o dominó pelas cartas, encontraremos em nossa língua um similar no mico-preto – ou simplesmente mico. Inicialmente marca registrada (Mico Preto) de um jogo de cartas infantil no qual o perdedor é quem termina com a carta do macaquinho, o mico acabou virando substantivo comum e até verbo: micar.