“Encontro o tempo todo na mídia, até mesmo na companhia de assinaturas ilustres, a palavra ‘massivo’; constato, contudo, que esta simplesmente não existe nos dicionários. O que está acontecendo? Um complô para a criação de uma palavra que nunca existiu?” (Pedro Gadelha)
O que está acontecendo, Pedro, é a importação de uma palavra que, tudo indica, os dicionários serão forçados a chancelar em breve. Vamos deixar de lado por um instante a questão da necessidade – ou gratuidade – dessa importação para examinar o processo em si.
É provável que o adjetivo massivo seja um anglicismo, uma aclimatação de massive, vocábulo do idioma de Miley Cyrus. Se digo que isso é provável, e não certo, é porque também seria possível buscar sua origem no francês massif – que, diga-se de passagem, é a matriz do massive inglês. No entanto, a geopolítica linguística de nossa época aponta mesmo para um anglicismo.
Massive, já se vê, é um descendente do latim massa, isto é, “monte, o todo, a totalidade”. Em português, derivamos da mesma raiz latina um adjetivo que existe desde o século XIV: maciço. Em todas as suas acepções, maciço é a tradução perfeita de massive.
Em tese, o fato de termos um vocábulo como maciço nos dispensaria de importar massive. Gostemos disso ou não, porém, a existência de boas alternativas vernaculares não impede idioma nenhum de acolher palavras estrangeiras. As razões para isso são variadas e muitas vezes imponderáveis. Quaisquer que sejam elas neste caso, parece estar em curso um processo de encolhimento do sentido de maciço.
Na acepção de “feito de matéria compacta; sem partes ocas, nem agregadas”, nenhum falante de português substituiria maciço por massivo. Não ainda, pelo menos. Diz-se que uma corrente é de ouro maciço, não massivo. No entanto, em outras acepções – como “encorpado, massudo; produzido em grande quantidade; intenso; que concerne a um grande número de pessoas” –, o estrangeirismo está fazendo carreira. Trata-se de uma constatação e não de um juízo de valor.
O fato de massivo frequentar com desenvoltura textos de bons jornalistas, como aponta o leitor, é significativo. Parece provável que nossos principais dicionários venham a lhe abrir as portas em breve. O “Dicionário de usos do português do Brasil”, de Francisco S. Borba, já o fez.
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