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Sobre Palavras

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Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Ioga ou yôga? Respire fundo

“Outro dia fui repreendida por uma amiga ao falar a palavra ioga, que pratico há mais de vinte anos. ‘Nossa, você ainda não sabe que o certo é yôga, com ípsilon?’, ela disse. É verdade mesmo, Sérgio, mudou o jeito de escrever e pronunciar ioga e só eu não sabia?” (Ana Lucia Pinho) Ah, as […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 13h32 - Publicado em 25 nov 2010, 14h34
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    “Outro dia fui repreendida por uma amiga ao falar a palavra ioga, que pratico há mais de vinte anos. ‘Nossa, você ainda não sabe que o certo é yôga, com ípsilon?’, ela disse. É verdade mesmo, Sérgio, mudou o jeito de escrever e pronunciar ioga e só eu não sabia?” (Ana Lucia Pinho)

    Ah, as guerrinhas linguísticas nossas de cada dia! Como é difícil manter a vista clara em meio à fumaça produzida por certos tiroteios vocabulares, cada lado julgando-se o detentor de uma “verdade” que nunca é absoluta, mas sempre histórica e contingente.

    Difícil, mas não impossível. A forma histórica da palavra em nossa língua, adotada desde fins do século 19, é ioga – de gênero feminino, grafada com i e pronunciada com o o aberto, exatamente como apareceu na fala de Ana Lucia antes que sua amiga sabichona a corrigisse.

    Tem poucas décadas o lobby que vem tentando – e em grande parte conseguindo – lançar um anátema sobre o bom e velho vocábulo ioga. A motivação básica dessa campanha, obviamente inconfessada, é marqueteira: o mais bem-sucedido empresário brasileiro do ramo, Luis Sérgio DeRose, ou Mestre DeRose, começou a espalhar que “o certo” é yoga, palavra de gênero masculino, grafada com y e pronunciada com o o fechado. Mas por quê? Ora, porque assim seria no sânscrito, idioma em que o termo nasceu com o sentido de “conexão, união com a divindade”.

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    Hmm, pode ser. No entanto, à parte o fato de que yôga soa à beça como inglês, isso sim, o argumento comete a ingenuidade de supor que, ao se aclimatar numa língua estrangeira, palavras devam algum tipo de satisfação a seu idioma de berço. De todo modo, a campanha pelo yôga nunca teve nada a ver com linguística: tratava-se daquilo que chamam de “diferencial”, peça-chave numa nem tão sutil estratégia comercial.

    Dito isso, não convém condenar os adeptos do yôga. Campanhas de marketing não são probidas e uma das maiores belezas da língua é que, no fim das contas, cabe a cada um decidir o que vai falar. Talvez yôga esteja além da consagração em poucas décadas. Só me aborrece que falantes como Ana Lucia, ao fazerem sua opção – consciente ou não, pouco importa – por um vocábulo clássico, inatacável e respeitoso com a tradição do português, sejam levados por quem sabe menos do que julga saber a acreditar que incorrem em algum tipo de erro.

    *

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