Galera: uma gíria, duas teorias
A origem da consagradíssima – mas ainda “jovem” – gíria brasileira “galera” é controversa. O Aurélio aposta que derivou de “galeria” na sua acepção teatral: “Localidade de ingresso mais módico, ordinariamente situada na parte mais alta do recinto; torrinha”. Ou melhor, não exatamente dela e sim do sentido que a palavra ganhou por extensão: “Conjunto […]
A origem da consagradíssima – mas ainda “jovem” – gíria brasileira “galera” é controversa. O Aurélio aposta que derivou de “galeria” na sua acepção teatral: “Localidade de ingresso mais módico, ordinariamente situada na parte mais alta do recinto; torrinha”. Ou melhor, não exatamente dela e sim do sentido que a palavra ganhou por extensão: “Conjunto das pessoas que se acham na galeria”. Galera seria, com o i devidamente engolido, a turma que se aboleta nos setores mais baratos de um auditório ou arquibancada. Dada a frequência com que se emprega a palavra para designar torcedores num estádio de futebol, a teoria parece boa. Porém…
O Houaiss toma um caminho bem diferente e apresenta argumentos que me parecem mais sólidos. Diz que a gíria veio de galera mesmo, ou galé, isto é, “embarcação de guerra movida a remo ou vela”. Em francês, informa, galère sofreu uma ampliação de sentido para abarcar o de “grupo de pessoas condenadas a remar nas galeras”, o que veio a dar, no inglês do século 18, na ideia de “grupo de pessoas que têm em comum uma qualidade marcada ou um relacionamento” – gente que rema para o mesmo lado, pois é. De fato, dicionários de inglês registram esse galicismo ainda hoje, com acento afrancesado e tudo. Diz o Webster’s: “grupo de pessoas do mesmo tipo ou classe”.
E então, galera? Teatro ou navio? Aurélio ou Houaiss?