“Por que, quando uma pessoa se dá mal por alguma razão, dizemos que ela ficou a ver navios? Nunca entendi o que uma coisa tem a ver com a outra. Obrigada.” (Regina Tostes)
A expressão “ficar a ver navios” – que significa “não obter o que esperava”, segundo o Houaiss – é antiga e, como costuma ocorrer nesses casos, de origem nebulosa, difícil de precisar. Como um navio que mal azula no horizonte.
Parece pacífico que surgiu em Portugal, como indica a construção “a ver” – no português brasileiro, a mesma ideia seria mais provavelmente expressa por “vendo”.
O pesquisador Luís da Câmara Cascudo apresenta duas teses sobre “a ver navios”. A primeira é uma referência “à lenda do rico Pedro Sem, mercador no Porto, cujos barcos naufragaram à sua vista quando desafiava Deus a fazê-lo pobre”.
No entanto, a hipótese que mais agrada ao estudioso – e também a mim – é a que faz da expressão mais um dos filhotes culturais do Sebastianismo, a velha crença popular (tanto lusitana quanto brasileira) na volta triunfal de D. Sebastião (imagem acima), o rei de Portugal que morreu jovem na batalha de Alcácer-Quibir em 1578.
“Creio mais lógico”, escreve Câmara Cascudo, “constituir [a expressão] referência aos sebastianistas que iam ao Alto de Santa Catarina, em Lisboa, esperar a vinda da nau que traria o ‘Encoberto’. ‘Está a ver navios no Alto de Santa Catarina!” era a imagem desses devotos, teimosos e fiéis ao Rei.”
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