“Quando nos referimos ao fecho dos brincos, o correto é tarraxa ou tarracha? É que nos dicionários só encontro tarraxa com o significado da rosca do parafuso e nunca como fecho de brincos. E na web, TODOS se referem a esses fechos como tarracha. Daí a dúvida.” (Maria Oliveira)
A palavra a que Maria se refere é tarraxa, grafada, segundo todos os dicionaristas, com xis. Tem acepções variadas, de “parafuso” e “rosca que prende o parafuso” a “cunha, cavilha, peça usada para apertar”. É o termo mais empregado para designar aquela pecinha que prende o brinco atrás da orelha, embora se encontre também, no Brasil, um sinônimo mais técnico: contrapino.
É verdade que a grafia “tarracha”, mesmo sem a abonação dos lexicógrafos, goza de grande popularidade, mas isso não quer dizer que todas as ocorrências na internet incorram em tal erro. Curiosamente, a flutuação de grafia tem raízes profundas, e durante algum tempo foi alimentada pelo fato de que ninguém tinha – como ainda não tem – muita certeza sobre a origem da palavra.
O Houaiss registra que, em fins do século XVIII, o influente dicionário de Antonio de Morais Silva optou por “tarracha”. Essa não foi, porém, a forma que vingou. O filólogo catalão Joan Corominas defendeu as grafias tarraja para o espanhol e tarraxa para o português, por acreditar que o vocábulo era oriundo do árabe tarraha, “aquilo que prende”, e que essa seria a transposição mais adequada. Em defesa de sua tese, foi buscar uma velha ocorrência de tarraxado no pioneiro dicionário de português de Rafael Bluteau, uma obra do início do século XVIII.
Para resumir, hoje não há dúvida: “tarraxa” é a única grafia aceita como correta. A popular “tarracha” vem a ser apenas um erro muito disseminado.
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