Eufemismo sim, mas com senso de ridículo
Bem empregado, na medida certa, na ocasião adequada, o eufemismo é mais do que bem-vindo. É civilizadíssimo. Esse recurso de linguagem que contorna formas de expressão duras, grosseiras ou chocantes ganhou seu nome na Grécia antiga – euphemismós, de eu (bom) + phemi (dizer) – e certamente já existia antes disso, mesmo sem nome, no […]
Bem empregado, na medida certa, na ocasião adequada, o eufemismo é mais do que bem-vindo. É civilizadíssimo. Esse recurso de linguagem que contorna formas de expressão duras, grosseiras ou chocantes ganhou seu nome na Grécia antiga – euphemismós, de eu (bom) + phemi (dizer) – e certamente já existia antes disso, mesmo sem nome, no discurso dos primeiros seres humanos que descobriram as vantagens de azeitar os mecanismos da vida em sociedade.
O limite do eufemismo é o senso de ridículo. Quando se espalha pela cultura com tanto sucesso uma expressão bocó, paternalista e mentirosa como “melhor idade” – que vem substituindo a mais aceitável “terceira idade” como eufemismo de velhice –, deve-se ver nisso um sinal de alerta.
Mas o eufemismo excessivo pode fazer mal? Claro que pode. Basta que comece a trabalhar pela hipocrisia ou pela tapeação, como ocorre frequentemente nas duas frentes que mais produzem perífrases enroladoras para a linguagem de hoje: o patoá politicamente correto, metido a delicado, e o tecnocratês, reduto da mistificação. O primeiro vai de melhor idade; o segundo é dado a palavrões como contingenciamento (que nada mais é do que corte) de despesas.
A verdade é que um pouquinho de crueza não faz mal a ninguém. Na dúvida, vale lembrar uma frase atribuída a Confúcio: “Se a linguagem não está de acordo com a verdade das coisas, nada chega a bom termo”.