A matéria mais lida do dia em VEJA.com, “Acusado de estupro na Uerj foi linchado por estudantes”, levou alguns leitores a manifestar estranheza sobre o uso da palavra linchamento. Afinal, o estudante acusado de violentar sexualmente uma colega no campus da universidade carioca no último dia 11 – e que não teve sua identidade divulgada – ainda está vivo, embora, segundo a reitoria, tenha sido agredido por um grupo de colegas após cometer o crime. Está certo falar em linchamento quando o justiçamento não provoca a morte da vítima?
Segundo os lexicógrafos, sim. O Houaiss, o melhor dicionário da língua portuguesa, traz duas acepções para o verbo linchar. A primeira e mais conhecida é “executar sumariamente, sem julgamento regular e por decisão coletiva (criminoso ou alguém suspeito de sê-lo)”. A segunda, surgida por extensão de sentido, é “praticar (a multidão) graves violências contra (alguém)”. O Aurélio, embora seja menos explícito no verbete em questão, permite a mesma interpretação quando se leva em conta que inclui entre os sinônimos de justiçar o verbo “supliciar”, ou seja, torturar. Parece claro que o linchamento não precisa resultar em morte para ser chamado assim.
Isso não quer dizer que tal uso seja comum e imune a mal-entendidos. A associação entre linchar e matar é forte desde a origem da palavra, que importamos do inglês to lynch – verbo derivado, curiosamente, de um nome próprio, William Lynch. Personificação do velho anseio humano de “fazer justiça com as próprias mãos”, Lynch era um fazendeiro do estado americano de Virgínia que, em fins do século XVIII, ficou famoso por comandar um tribunal privado para julgar e executar criminosos apanhados em flagrante.