– E aí, gostou da crônica?
– Posso ser sincero com você? Não.
– Ah.
– Não fique bolado. É que você cita muito.
– Bolado? Não, imagina. A literatura está apinhada de destroços de gente que se importou além do razoável com a opinião dos outros. Virginia Woolf.
– Está vendo o que eu disse? Você cita demais.
– Roubar ideias de uma pessoa é plágio, roubar ideias de muitas pessoas é pesquisa. Wilson Mizner, talvez.
– É, mas eu fico sem saber o que é autêntico debaixo desse entulho cultural todo. Qual é a sua verdade, entendeu?
– Concordo com tudo o que você diz, mas atacarei até a morte seu direito de dizê-lo. Tom Stoppard.
– Para mim, enquanto leitor e a nível de ser humano, isso é bobagem. Só a verdade da alma me interessa. Veja a literatura do Anicletinho, por exemplo.
– O Anicletinho, jura? Na literatura, como no amor, nós nos espantamos com as escolhas que os outros fazem. André Maurois.
– O Anicletinho pode ser meio ingênuo, mas me inspira. Quando leio um escritor, quero aprender alguma coisa. Se ele não tem nada de profundo e original a dizer, se é só um papagaio dos achados alheios, não leve a mal, mas por que eu vou perder meu tempo?
– Todo mundo pensa que os escritores sabem mais sobre o funcionamento da mente humana, mas isso é um erro. Eles sabem menos, por isso escrevem. Para tentar entender aquilo que os outros acham muito natural. Margaret Atwood.
– Então tá, hein? Minha mulher está me esperando para jantar. Até qualquer dia.
– O escritor é um homem que, mais do que qualquer outro, tem dificuldade para escrever. Thomas Mann. Tudo já foi escrito. Anônimo. Eu não tenho interesses literários: sou feito de literatura, não sou nada além disso e não posso ser nada além disso. Franz Kafka.
– Você ouviu o que eu disse, cara? TCHAU!
– NÃO PRECISA GRITAR! Ludwig van Beethoven.