“Por favor, explique melhor a diferença entre a acepção brasileira e a internacional de ‘bilhão’. Sou tradutora e leio diariamente diversos jornais estrangeiros online e sempre me confundo.” (Kirsten Woltmann)
Vamos começar situando a dúvida de Kirsten: ela se refere a algo que escrevi aqui na semana passada, quando afirmei que o prefixo “nano”, de origem latina, pode ter o sentido preciso um bilionésimo – “levando-se em conta a acepção brasileira de bilhão”, expliquei, “não a internacional”.
A tal acepção “brasileira” de bilhão, que na verdade é usada também nos EUA e em outros países, considera esse numeral equivalente a mil milhões. Na maior parte do mundo, um bilhão corresponde a um milhão de milhões.
A diferença é de três zeros: em vez de 1 seguido de nove zeros, ou 109, como no Brasil, o bilhão francês, inglês ou alemão tem doze zeros, equivalendo a 1012. Como se vê, longe de ser um detalhe desprezível, trata-se de uma discrepância abissal que pode provocar mal-entendidos sérios.
A confusão vem de longe. A palavra (então grafada byllion) surgiu no francês em fins do século XV como “alteração arbitrária de million”, segundo o Trésor de la Langue Française. Pelos séculos seguintes, seu sentido original de “um milhão de milhões” alternou-se no idioma natal com o de “mil milhões”.
Em 1949, a IX Conferência Internacional de Pesos e Medidas, realizada em Paris, tentou acabar com a bagunça aprovando a chamada “regra dos 6N”, segundo a qual são necessários seis zeros – e não três – para passar do milhão ao bilhão, mais seis para ir do bilhão ao trilhão e assim por diante. Naturalmente, a discrepância numérica entre as duas nomenclaturas cresce na proporção da grandeza: como lembra o Houaiss, o quatrilhão dos seguidores dos 6N (1024) é chamado por aqui de septilhão.
O Brasil e os EUA também estavam entre os signatários da convenção de 1949, mas no caso deles a regra não colou. Hoje, por influência americana, até no inglês britânico a cizânia vai se instalando.
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