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Sobre Palavras

Por Sérgio Rodrigues Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.

As palavras democracia e demônio têm algo em comum?

“Olá, Sérgio. Tenho uma dúvida que, desde bem novo, nunca tirei. O radical grego ‘demo’, de democracia, tem alguma coisa a ver com o de ‘demônio’? Também reparei recentemente na palavra ‘demonstrar’, que pelo sentido que a gente usa não tem nada a ver com povo, mas, vi que, em alemão, ‘demonstrieren’ significa reclamar ou […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 06h17 - Publicado em 9 Maio 2013, 16h58

“Olá, Sérgio. Tenho uma dúvida que, desde bem novo, nunca tirei. O radical grego ‘demo’, de democracia, tem alguma coisa a ver com o de ‘demônio’? Também reparei recentemente na palavra ‘demonstrar’, que pelo sentido que a gente usa não tem nada a ver com povo, mas, vi que, em alemão, ‘demonstrieren’ significa reclamar ou protestar. Será que é o mesmo ‘demo’ também? Obrigado.” (Paulo Hora)

As semelhanças que Paulo aponta entre as palavras democracia, demônio e demonstrar existem apenas na superfície. São casuais, meras coincidências, sem nenhuma sustentação etimológica. Vamos dar uma olhada na origem de cada um desses vocábulos.

Democracia, como pouca gente ignora, é um termo nascido no grego demokratía pela junção de demos (“povo”) e kratía (“força, poder”). Antes de desembarcar no português fez uma escala no latim tardio democratia e, provavelmente, também no francês démocratie, palavra existente desde o século XIV (o primeiro registro da nossa data de 1671).

A raiz das palavras demo e demônio, dois dos muitos nomes do diabo, também deve ser buscada na Grécia, mas o termo em questão aqui não é demos e sim daimon (“divindade, gênio”). Seu sentido entre os gregos antigos, bem diferente do atual, era o de espírito que atuava como mensageiro entre deuses e homens. A acepção de “espírito do mal, diabo” colou-se à palavra latina daemon na era cristã.

Já no verbo demonstrar, que o português foi buscar no latim demonstrare (“fazer ver, dar a conhecer, indicar, comprovar”), o caráter fortuito da semelhança com os termos democracia e demônio fica evidente quando se sabe que foi formado pela junção da preposição de com o verbo monstrare, de onde tiramos nosso “mostrar”, que aliás é seu sinônimo. O prefixo neste caso apenas reforça o sentido original, indicando o ato de mostrar de forma cabal, decisiva.

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Quanto à acepção política de “protestar publicamente” que Paulo encontrou no alemão, e que também está presente no inglês demonstrate, trata-se de uma extensão de sentido tardia (ocorrida em inglês em meados do século XIX) baseada na ideia de “fazer ver, dar a conhecer” ao público o apoio que tem uma ideia: demonstration, nesse caso, é aquilo que por um processo de evolução semântica praticamente idêntico nós chamamos de manifestação. O fato de ser necessária alguma participação do povo (demo) para haver uma verdadeira demonstration não passa de coincidência.

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