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Sobre Palavras

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Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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A greve e a greve dos metroviários

Assembleia dos metroviários, ontem (Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress) Numa semana em que a vida dos paulistanos sofreu profundamente o impacto da paralisação dos metroviários, a palavra escolhida como a de maior destaque pela coluna – greve, claro – tem raízes francesas. Segundo o referencial Trésor de la Langue Française, o termo grève ganhou seu primeiro registro […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 03h43 - Publicado em 6 jun 2014, 17h00
Assembleia dos metroviários, ontem (Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress)

Assembleia dos metroviários, ontem (Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress)

Numa semana em que a vida dos paulistanos sofreu profundamente o impacto da paralisação dos metroviários, a palavra escolhida como a de maior destaque pela coluna – greve, claro – tem raízes francesas.

Segundo o referencial Trésor de la Langue Française, o termo grève ganhou seu primeiro registro no século XII, mas seu sentido ainda era bem diferente então: “terreno plano, geralmente de areia e cascalho, localizado à beira-rio ou beira-mar; praia”.

Não, nada a ver com trabalhadores que aproveitam a greve para ir à praia. O caminho de grève até a acepção que o português acabaria por importar envolveu dois passos. No primeiro, o substantivo comum virou nome próprio ao batizar uma praça de Paris, em frente à sede da administração municipal (hoje Place de l’Hôtel-de-Ville), em referência a seu piso arenoso e ao fato de ficar às margens do Sena.

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Até então não havia sinal de luta trabalhista na palavra. Ocorre que a Place de Grève virou ponto de reunião de trabalhadores desempregados, à espera de uma contratação temporária – uma espécie de banco de mão de obra ociosa. Aquele monte de homens de braços cruzados acabaria inspirando o segundo e decisivo passo na expansão semântica do vocábulo.

Data de 1805 o primeiro registro da expressão faire grève (“fazer greve”), com o sentido de paralisar os trabalhos, segundo o mesmo TLF. Cerca de setenta anos depois o termo greve estreava num dicionário de nosso idioma, o do frei Domingos Vieira.

Os puristas se escandalizaram com esse empréstimo, claro, como é próprio dos puristas. Propuseram trocar o galicismo pelo vernacular “parede”, que segundo o Houaiss chegou a ter boa circulação no Brasil até as primeiras décadas do século XX. No fim, perderam a guerra.

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