A greve e a greve dos metroviários
Assembleia dos metroviários, ontem (Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress) Numa semana em que a vida dos paulistanos sofreu profundamente o impacto da paralisação dos metroviários, a palavra escolhida como a de maior destaque pela coluna – greve, claro – tem raízes francesas. Segundo o referencial Trésor de la Langue Française, o termo grève ganhou seu primeiro registro […]
Numa semana em que a vida dos paulistanos sofreu profundamente o impacto da paralisação dos metroviários, a palavra escolhida como a de maior destaque pela coluna – greve, claro – tem raízes francesas.
Segundo o referencial Trésor de la Langue Française, o termo grève ganhou seu primeiro registro no século XII, mas seu sentido ainda era bem diferente então: “terreno plano, geralmente de areia e cascalho, localizado à beira-rio ou beira-mar; praia”.
Não, nada a ver com trabalhadores que aproveitam a greve para ir à praia. O caminho de grève até a acepção que o português acabaria por importar envolveu dois passos. No primeiro, o substantivo comum virou nome próprio ao batizar uma praça de Paris, em frente à sede da administração municipal (hoje Place de l’Hôtel-de-Ville), em referência a seu piso arenoso e ao fato de ficar às margens do Sena.
Até então não havia sinal de luta trabalhista na palavra. Ocorre que a Place de Grève virou ponto de reunião de trabalhadores desempregados, à espera de uma contratação temporária – uma espécie de banco de mão de obra ociosa. Aquele monte de homens de braços cruzados acabaria inspirando o segundo e decisivo passo na expansão semântica do vocábulo.
Data de 1805 o primeiro registro da expressão faire grève (“fazer greve”), com o sentido de paralisar os trabalhos, segundo o mesmo TLF. Cerca de setenta anos depois o termo greve estreava num dicionário de nosso idioma, o do frei Domingos Vieira.
Os puristas se escandalizaram com esse empréstimo, claro, como é próprio dos puristas. Propuseram trocar o galicismo pelo vernacular “parede”, que segundo o Houaiss chegou a ter boa circulação no Brasil até as primeiras décadas do século XX. No fim, perderam a guerra.